Projeto usa hip hop para mudar vida de egressos no Rio Grande do Sul
MC’s para a Paz uniu hip hop, psicoterapia e educação cidadã para dar oportunidades a jovens de unidades prisionais entre 2007 e 2015. Agora, ONG quer recriar o projeto
Por: Juliana Lima
O projeto MC’s para a Paz foi precursor ao utilizar o hip hop como atrativo para homens em unidades prisionais no Rio Grande do Sul e oferecer para eles oportunidades de se reintegrar à sociedade a partir de sessões de psicoterapia em grupo e aulas de educação cidadã.
A iniciativa foi da psicóloga Fernanda Bassani, que trabalha em penitenciárias há cerca de 20 anos. A ideia surgiu em 2007, quando Fernanda foi trabalhar na Penitenciária Estadual de Jacuí, a maior do Rio Grande do Sul, que fica em Charqueadas, a uma hora da capital Porto Alegre. Logo de início, a psicóloga notou que os projetos educacionais não tinham adesão entre os presos, que ficavam reféns das facções e do estereótipo de bandido mesmo quando saíam da penitenciária.
Outro fator relevante para a profissional foi o perfil dos internos, que chegavam a 2.500 no total. A maioria era jovem, entre 18 e 24 anos, e tinha chegado ali por crimes praticados por conta da dependência química de drogas. Além disso, eram majoritariamente negros vindos da periferia. No Rio Grande do Sul, a população negra corresponde a apenas 18%, mas entre a população carcerária do estado esse percentual é de 38%.
Com o nome inicial de “Multiplicadores de Cidadania Para a Paz”, o MC’s para a Paz nasceu em colaboração com os internos, que identificavam e sugeriam os colegas com potencial para a arte. Dessa forma, segundo a psicóloga Fernanda Bassani, todos poderiam se sentir parte do projeto.
Além das sessões de psicoterapia em grupo, eles passaram a receber aulas sobre temas relevantes para suas vidas como consciência racial, paternidade responsável, prevenção do uso de drogas, cultura periférica, violência e redes de apoio, e inclusão social. Ao final, eles podiam produzir músicas de hip hop a partir dos temas abordados.
De 2007 a 2015, o projeto se estendeu a outras três instituições de regime fechado e três em regime semiaberto – cujos internos podem fazer shows e palestras do lado de fora. De acordo com a estimativa de Fernanda Bassani, o MC’s para a Paz beneficiou 500 jovens.
Com a transferência da psicóloga para a Polícia Civil em 2015, o MC’s para a Paz teve que ser paralisado. Mas agora, a ONG Cidade Segura quer implantar uma nova versão da iniciativa: o projeto Sagaz. A partir do ano que vem, a organização pretende trabalhar com jovens que cumprem medidas socioeducativas e prisionais em diversos municípios do Rio Grande do Sul.
Segundo Fernanda Bassani, esses projetos são fundamentais para que o sistema prisional possa realmente recuperar quem passa por ele, e não distanciá-lo ainda mais da sociedade, e isso deveria ser uma preocupação de todos. “Todo ser humano deveria frequentar um presídio por pelo menos 15 dias. O nosso nível de civilidade, de democracia, está diretamente relacionado com a forma com a qual tratamos nossas prisões”, ela explica, citando um pensamento de Nelson Mandela.
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Fonte: UOL ECOA