Retina artificial pode fazer pessoas cegas voltarem a enxergar
Cientistas estão criando dispositivo que funciona como uma retina artificial conectada ao córtex cerebral de pessoas cegas. Testes iniciais foram considerados um sucesso
Por: Juliana Lima
Com o objetivo de encontrar uma cura definitiva para as deficiências visuais, a ciência tem feito inúmeras tentativas. Uma das principais tem sido a criação de olhos biônicos ou equivalentes, que até então tiveram variados graus de sucesso. O principal desafio para tornar isso possível é a quantidade de minúsculas terminações nervosas a serem simuladas, já que o nervo óptico humano contém milhões delas.
No entanto, recentemente, pesquisadores da Universidade de Monash e do Center for Eye Research, na Austrália, desenvolveram uma retina artificial que resgata parcialmente a visão de pessoas com deficiência visual. A pesquisa foi levada adiante por cientistas da Universidade de Miguel Hernandez, na Espanha, que tentaram contornar os olhos do paciente para conectá-los diretamente ao córtex visual do cérebro.
Dessa forma, as imagens podem ser obtidas através de uma câmera colocada em um par de óculos antes de serem convertidas em sinais elétricos captados pelo cérebro. Ou seja, os óculos, que possuem uma câmera central, servem como uma retina artificial do usuário. Por fim, um implante é inserido diretamente no tecido cerebral.
Os cientistas, tanto da Universidade de Miguel Hernandez quanto da Universidade de Monash, explicam que a câmera ainda não possui a potência necessária para transmitir uma imagem completa, mas sim variações de luz que permitem ao usuário distinguir formas e objetos.
A luz captada na parte frontal dos óculos é convertida em sinais elétricos que são transmitidos ao implante colocado no cérebro do usuário: uma matriz tridimensional de 96 microeletrodos que são inseridos no tecido cerebral para que possam estimular e monitorar a atividade elétrica dos neurônios no córtex visual, localizado no córtex cerebral maior.
O implante tem quatro milímetros de largura e cada eletrodo possui 1,5 milímetro de comprimento. Os estímulos elétricos gerados permitem que a pessoa perceba os padrões de luz transmitidos pela retina artificial.
Em 2020, foi testada uma versão do implante com mil eletrodos em primatas. Embora os animais não fossem completamente cegos, os cientistas consideraram o teste um sucesso. Assim, uma versão aprimorada foi testada com uma mulher de 57 anos que era cega há mais de 16.
Depois de uma fase inicial em que aprendeu a interpretar as imagens produzidas pelo dispositivo, ela conseguiu identificar as letras e contornos de certos objetos. Segundo os pesquisadores, o implante não afetou negativamente as demais funções do córtex cerebral nem estimulou neurônios coadjuvantes.
O cenário é de otimismo. Agora, os cientistas vão recrutar mais pessoas cegas para realizar novos testes, estimulando um número maior de neurônios simultaneamente, com o objetivo de produzir imagens mais complexas e detalhadas.
Fonte: Razões Para Acreditar