Técnica de enfermagem indígena ajuda 700 famílias em Manaus
A técnica de enfermagem Vanderlecia Ortega dos Santos atende de forma voluntária pacientes com suspeita de Covid-19 na comunidade indígena onde vive, composta por 700 famílias
Por: Mariana Lima
No assentamento precário Parque das Tribos, em Manaus, vivem descendentes de 35 tribos indígenas diferentes, com pouco acesso a eletricidade e saneamento na maioria das casas.
Neste cenário precário, o avanço do novo coronavírus poderia fazer vítimas fatais rapidamente. Para piorar, as ambulâncias se recusam a recolher os doentes graves da região, por não haver nenhuma clínica de saúde pública nas proximidades.
Para ajudar as pessoas que vivem na comunidade indígena, no entanto, a técnica de enfermagem Vanderlecia Ortega dos Santos, de 32 anos, moradora da comunidade, ofereceu-se para tentar garantir os únicos cuidados de prevenção a 700 famílias contra a Covid-19.
Vanda, como é conhecida na comunidade, faz parte da etnia witoto, do extremo norte do Rio Amazonas, na fronteira com a Colômbia. Enquanto a prefeitura de Manaus se recusa a cuidar da saúde indígena, afirmando ser de cuidado federal, Vanda oferece analgésicos e demais medicamentos básicos aos seus pacientes na comunidade.
Ela passa orientações para evitar o contágio e realiza visitas domiciliares nas horas vagas usando um avental, luvas e máscaras para se proteger e a quem atende. Às vezes, utiliza também um cocar tradicional dos witotos com penas de arara.
O distanciamento social que visa frear a contaminação pelo vírus prejudicou a economia local, tornando a fome uma figura recorrente na região. A situação dificultou o ganho de renda tanto das mulheres, que produziam artesanatos ou saíam para atuar como trabalhadoras domésticas em casas de Manaus, quanto dos homens, que trabalhavam em canteiros de obras.
Para tentar atenuar o impacto desta nova realidade, Vanda criou uma campanha nas redes sociais para a doação de alimentos e kits de higiene.
Vanda mostrou sua indignação com o abandono de sua comunidade durante a visita do ministro da Saúde, Nelson Teich, a Manaus. Ela e duas amigas o receberam com um protesto diante do hospital de referência da cidade, para exigir atenção médica à população indígena.
As três usavam máscaras feitas pela mãe de Vanda em que se podia ler a frase “Vidas indígenas importam“. A manifestação possibilitou um encontro com o chefe da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Robson Santos da Silva, que afirmou no encontro que um hospital de campanha em Manaus prometido pelo governo federal teria uma ala para pacientes indígenas com Covid-19.
No entanto, um porta-voz do ministério informou que a construção do hospital terá que aguardar enquanto o governo se concentra na expansão das instalações que já existem em Manaus.
Fonte: O Globo