Transtorno bipolar: organização acolhe e informa a sociedade sobre o distúrbio mental
O Dia Mundial do Transtorno Bipolar é comemorado em 30 de março, em homenagem ao pintor Van Gogh, diagnosticado postumamente pela doença; para dar visibilidade ao tema, o Observatório entrevistou a presidente da ABRATA, organização do terceiro setor que atende pessoas diagnosticadas com transtornos afetivos
Por Ana Clara Godoi
O transtorno afetivo bipolar afeta anualmente mais de 140 milhões de pessoas no mundo. A condição de saúde mental que causa mudanças extremas de humor pode levar até 10 anos para ser detectada e cerca de 78% das pessoas com bipolaridade são diagnosticadas erroneamente com depressão.
Para compreender o tema, na semana em que se comemora o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, o Observatório do Terceiro Setor entrevistou Marta Axthelm, presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos – ABRATA, uma organização do terceiro setor que informa a sociedade sobre o transtorno bipolar e acolhe pessoas diagnosticadas.
Embora um dos sintomas da bipolaridade seja a depressão, a condição é diagnosticada a partir da identificação da mania, episódios de euforia intensa em que o indivíduo age compulsivamente e apresenta agitação, desvio de atenção, aumento da libido, irritabilidade e impaciência.
Marta explica que o diagnóstico só é possível através de uma longa análise dos comportamentos do paciente feita por um profissional capacitado, visto que não há exames que identifiquem o distúrbio. A falta de psiquiatras especializados, ou até mesmo a frequente mudança de acompanhamento profissional, contribuem para a demora da identificação.
“Quando olhamos no ponto de vista de saúde pública, infelizmente temos uma grande defasagem, não é em todas as Unidades Básicas de Saúde que existem psiquiatras disponíveis para extrair do paciente o máximo de informações e ter mais segurança ao diagnosticar”, afirma.
Outro ponto muito discutido sobre o transtorno bipolar é o preconceito sofrido por pessoas diagnosticadas, em especial no mercado de trabalho. Uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais aponta que há redução de mais de 800 mil empregos gerados anualmente no país devido aos transtornos mentais que afetam trabalhadores. “Muitas empresas não aceitam bem funcionários com transtornos afetivos como ansiedade e bipolaridade. As pessoas escondem a condição, mas quando um episódio de mania acontece, acabam sendo demitidas”.
Além disso, há o auto estigma. “A pessoa quando recebe o diagnóstico de transtorno bipolar não o recebe tranquilamente, ela rejeita, principalmente porque não tem noção do que é o transtorno. É uma doença que não tem cura, mas tem tratamento. Com medicações, trabalho terapêutico e grupos de apoio ela adquiri condição de retomar a sua vida com naturalidade”, explica.
O terceiro setor tem um papel fundamental na quebra do estigma. Há 23 anos, a ABRATA produz conteúdo informativo sobre transtornos afetivos e oferece grupos de apoio às pessoas diagnosticadas, com objetivo de diminuir o preconceito através do conhecimento. “Os grupos de apoio são um espaço de troca sigiloso e de respeito muito importantes para toda a sociedade, porque muitas vezes os amigos e familiares querem ajudar e não sabem como. Quanto mais conhecimento e informações de qualidade, mais você diminui o preconceito e o estigma”.
Os grupos de apoio são realizados semanalmente de forma online e gratuita, por voluntários que se especializaram no assunto. A ação atende jovens de 16 a 24 anos e adultos, em sessões separadas. É possível se inscrever no site da organização.
A ABRATA conta com 60 voluntários e 10 especialistas que compõem o conselho científico e o grupo de psicólogos e psiquiatras, e recebe doações para manter suas atividades. Interessados em contribuir podem doar no site da organização. Todas as atividades e ações contribuem para os ODS 3 e 10, metas da Agenda 2030 da ONU que promovem saúde e bem-estar para toda a população e a redução das desigualdades.