Tratado como mercadoria, ele conseguiu se tornar primeiro palhaço negro do Brasil
Filho de pessoas escravizadas e alforriado ao nascer, Benjamin de Oliveira foi espancado e tratado como mercadoria diversas vezes ao longo de sua vida, por ser negro
Benjamin Chaves, mais conhecido como Benjamin de Oliveira, nasceu em Pará de Minas, no interior de Minas Gerais, em 11 de junho de 1870. Era filho de Malaquias Chaves e Leandra de Jesus, ambos escravizados.
Assim como seus irmãos, Benjamin ganhou a alforria assim que nasceu, por sua mãe ser considerada uma “escrava de estimação“. Seu pai trabalhava buscando escravos fugidos.
Aos 12 anos, Benjamin fugiu de casa ainda criança com a trupe do circo Sotero, que passava na cidade, onde atuou como trapezista e acrobata.
Três anos depois, ele decidiu escapar do circo, já que era espancado pelo dono do empreendimento. Fora do Sotero, ele encontrou ciganos que queriam lhe vender, fazendo com que ele tivesse de escapar novamente. O rapaz era tratado como mercadoria por todos.
Na fuga, ele acabou encontrando um fazendeiro, que alegou que ele seria um escravo fugitivo. Benjamin, para ser liberado, teve que fazer algumas das acrobacias que ele havia aprendido no circo.
O jovem passou por diversos circos, em diferentes cidades, e chegou a chamar a atenção de um presidente da República.
Quando estava no circo Caçamba, no Rio de Janeiro, o então presidente do Brasil, Marechal Floriano Peixoto, viu uma de suas apresentações e ficou admirado. Com isso, em 1893, o circo foi transferido para a Praça da República, em frente à sede do governo, localizada no Palácio do Itamaraty. A partir dali, os materiais usados pela trupe eram transportados pelo Exército Brasileiro.
Em agosto de 1908, Benjamin protagonizou a peça ‘O Guarani’, baseada no livro homônimo de José de Alencar. A peça foi filmada no Circo Spinelli e lançada como filme sob o nome ‘Os Guaranis’. Em 1921, criou a revista ‘Sai Despacho!’.
Em 1941, ele pediu auxílio de passagens e transporte para 46 pessoas para uma excursão a Belo Horizonte (MG). O pedido foi negado.
Em 1947, devido à pressão feita por jornalistas à Câmara dos Deputados, ele passou a receber pensão do governo federal. Mesmo assim, morreu praticamente na miséria, em 03 de maio de 1954, quando tinha 84 anos.
A historiadora Ermínia Silva publicou em 2008 o livro ‘Circo Teatro: Benjamin de Oliveira e a Teatralidade Circense no Brasil’.
Em 2009, a escola de samba São Clemente apresentou no carnaval carioca o enredo ‘O Beijo moleque da São Clemente’, uma homenagem a Benjamin de Oliveira. O enredo de autoria do carnavalesco Mauro Quintaes foi inspirado no livro de Ermínia Silva.
Apesar das homenagens, Benjamin também foi alvo de preconceito após sua morte. Sua estátua situada no Parque Bariri, em Pará de Minas (MG), foi vandalizada, pichada com duas suásticas prateadas em setembro de 2017.
No carnaval de 2020, a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro teve como enredo ‘O Rei Negro do Picadeiro’, que cantou a vida e obra de Benjamin.
Fonte principal: Marques, Daniel (2006). O palhaço negro que dançou a chula para o Marechal de Ferro. Universidade Federal da Bahia.
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14/04/2021 @ 15:46
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