Vacinação infantil despenca a pior nível em três décadas
Taxas de vacinação infantil são as menores em três décadas e retorno de doenças antes consideradas erradicadas no país preocupa. Especialistas dizem que falta de comunicação é principal razão para o problema e dados apontam que orçamento em propaganda de campanhas também é o menor em anos
Por Juliana Lima
Em 2021, a vacinação infantil no Brasil chegou a seu pior nível em três décadas. Entre as maiores quedas está a da vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), que em 2015 chegou a 96% das crianças, mas em 2021 caiu para 71%; a pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e hemófilo B), que caiu de 96% para 68% no mesmo período; e a de poliomielite (contra paralisia infantil), que foi de 98% a 67%.
As informações foram obtidas com exclusividade pela Repórter Brasil a partir de dados do Programa Nacional de Imunizações no DataSUS, e os números de 2021 ainda estão sujeitos a revisão. Com a queda histórica nas taxas de imunizações, doenças que antes eram consideradas erradicadas no país correm o risco de voltar a assombrar a população.
“As coberturas de hoje estão no patamar de 1987. Isso é um retrocesso absurdo”, diz Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). A especialista comenta que as campanhas de imunização ainda existem no país, mas faltam investimentos em sua comunicação e propaganda.
Os dados encontrados revelam a razão pela falta de propaganda sobre as vacinas: os orçamentos destinados a essa finalidade vêm sendo sucessivamente reduzidos nos últimos quatro anos. Em 2021, o Ministério da Saúde gastou R$ 33 milhões em apenas duas campanhas (gripe e multivacinação), uma redução de 52% ante 2020, quando foram gastos R$ 69 milhões nas campanhas de gripe, sarampo, poliomielite, vacinação geral e febre amarela.
O corte é ainda maior se comparado a 2017, quando o Programa Nacional de Imunizações (PNI) aplicou R$ 97 milhões em cinco campanhas: hepatites, febre amarela, multivacinação, gripe e HPV. Os valores foram corrigidos pela inflação.
Outro destaque é a ausência total de campanhas para a vacina contra o HPV. O imunizante, que previne o câncer de colo de útero, é destinado a meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, mas nunca atingiu a meta de vacinar 80% deste público desde que entrou para o SUS, em 2014. “Há um mito de que a vacina de HPV estimula a atividade sexual. Mas essa teoria, que é falsa, parece estar prevalecendo entre os gestores do ministério”, diz a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o PNI de 2011 a 2019.
Para Isabella Ballalai, a comunicação é importante porque a preocupação das pessoas está diretamente ligada à percepção de risco. “Por muitos anos, os brasileiros viam as doenças de perto e se preocupavam. Mas, aos poucos, essa memória começa a desaparecer, os índices de cobertura caem e os surtos acontecem”, diz.
A epidemiologista Carla Domingues concorda: “Precisa de publicidade o tempo todo. A imunização não é uma ação pontual. Não adianta fazer campanha esse ano e no ano que vem não. Todo ano tem novos nascimentos e novas vacinas para reforçar. É uma ação eterna que não pode ser desmobilizada”.
Efeito da pandemia
Outro fator relevante para a queda nas taxas de vacinação infantil, segundo as especialistas, foi a pandemia do coronavírus, principalmente devido ao medo dos pais em irem a postos de saúde. Mas elas pontuam, novamente, que a falta de informação e comunicação foi determinante nesse caso.
“No início da pandemia teve interrupção por três meses da vacinação de rotina. Depois, não houve nenhuma mensagem adequada sobre reabertura dos postos. Faltou uma comunicação das autoridades públicas de que havia riscos altos para a população além da Covid”, diz Ballalai.
Pra Domingues, o cenário da vacinação de crianças contra a Covid é “ainda mais grave” porque não só faltou uma comunicação adequada sobre sua importância, mas houve uma desinformação em massa organizada pelo próprio governo. Segundo a Fiocruz, menos de 5% das crianças de 5 a 11 anos receberam as duas doses da vacina contra o coronavírus.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que “monitora atentamente as coberturas vacinais e tem trabalhado para intensificar as estratégias para reverter o cenário de baixas coberturas”.
Fonte: Repórter Brasil
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