Verdadeira história: Medusa foi transformada em monstro por ter sido estuprada
Para se vingar de Atena, Poseidon, sem nenhum pudor, decidiu abusar sexualmente de uma das suas devotas mais fieis, a Medusa. Por perder a virgindade, Medusa foi transformada em um monstro e nunca teve sua história contada corretamente. Medusa é mais uma personagem mulher punida e transformada em monstro pelo machismo histórico.
A história quase sempre culpa as mulheres de todas as coisas ruins que acontecem no mundo. Eva (personagem bíblico) é a única culpada pelos pecados do mundo, segundo o livro mais vendido do planeta. Mesmo que a história conte que Adão era responsável pelas decisões, a mulher foi culpada por apresentar a maça. Nunca sequer foi debatida a decisão do homem. Na mitologia grega também as mulheres são descritas como vingativas, monstros e sedutoras.
A Medusa, personagem mitológica vista por todos como maléfica e monstruosa, nunca teve sua história realmente contada; tudo isso para romantizar um ataque brutal em que a personagem precisa arrancar sua cabeça para combater um monstro marinho. A parte mais cruel nunca foi contada em filmes e na arte em geral. Medusa foi transformada em um monstro porque foi estuprada e vivia isolada, até aparecer Perseu, que precisava arrancar sua cabeça para salvar Andrômeda. Quem seria o monstro? Mais uma vez a história transformou a mulher no monstro causador de sofrimento.
Na antiga mitologia grega, Medusa é a mais famosa das três irmãs conhecidas como as Górgonas. O mais antigo registo conhecido sobre a história da Medusa e das Górgonas pode ser encontrado na Teogonia de Hesíodo. Segundo este antigo autor, as três irmãs, Sthenno, Euryale e Medusa, eram as crianças de Phorcys e Ceto e viviam “para além do famoso Oceano, à beira do mundo, duramente à noite”. Das três, apenas a terceira é considerada mortal, mas ela é também a mais famosa e o mito do seu falecimento nas mãos de Perseu é frequentemente recontado.
Uma mulher de beleza descomunal, que gostava de se cuidar. Assim era Medusa e, mesmo muito vaidosa, a jovem era sacerdotisa fiel de Atena, a deusa virgem. Apesar de todos os cuidados com pele, cabelo e das roupas mais ousadas, Medusa nunca deixou de seguir o princípio da castidade de Atena.
Na Grécia Antiga, Poseidon e Atena, em um determinado momento, travaram uma guerra para decidir a capital da Grécia. Atena saiu vitoriosa e isso despertou uma fúria em seu irmão, que era um tanto quanto irracional.
E para se vingar de Atena, Poseidon, sem nenhum pudor, decidiu abusar sexualmente de uma das suas devotas mais fieis, a Medusa.
Após isso, rumores do fato começaram a se espalhar. E não é de se espantar que a maioria das pessoas culpavam Medusa, dizendo que ela tinha se aproveitado da situação. Apesar disso, a fé da jovem não se abalou e ela continuou fiel a seus princípios e indo todos os dias ao templo da deusa.
Ao saber disso, Atena foi tirar satisfação com Medusa e a serva disse que havia sido vítima de um abuso. Se fosse qualquer outra serva sua, Atena havia acreditado. Porém, como era Medusa, a deusa não se convenceu de suas explicações e transformou seu cabelo em cobra, lançando a maldição que qualquer pessoa que olhasse para ela seria transformada em pedra.
Essa é apenas uma das várias histórias de violência sexual da mitologia grega, que buscava contemplar todos os anseios, pensamentos e vontades humanas. Mas, sob um olhar atual, Medusa foi a única a receber punição pelos atos se Poseidon, enquanto seu único “crime” foi ser bonita. Vemos traços inegáveis da cultura do estupro nessa história.
Natalie Haynes, graduada em Filologia Clássica pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e considerada uma autoridade mundial em literatura clássica, decidiu revisitar esses mitos a partir de uma perspectiva silenciada há centenas de anos: a feminina.
Autora de seis livros, em 2021 publicou Os Mil Navios (em tradução livre), que narra a lendária Guerra de Tróia e suas terríveis consequências por meio das histórias de várias mulheres.
“As pessoas pensam na Medusa como o monstro arquetípico, mas ela foi vítima de estupro. Ela foi primeiro estuprada por um deus masculino (Poseidon) e depois punida por uma deusa feminina (Athena) por ter sido agredida sexualmente em seu templo”, diz a autora.
“Escrever sobre Medusa para o meu livro O Jarro de Pandora foi muito terapêutico. Realmente gostei de poder dizer às pessoas: Veja como tratamos essa personagem que de fato não fez absolutamente nada de errado”.
A escritora disse que quando terminou o capítulo sobre Medusa, ficou muito zangada com a forma como a história a trata, e decidiu priorizar partes muito específicas de sua trajetória. A escritora lembra até da terrível maldição de Medusa, que transforma em pedra quem olhar diretamente para seus olhos.
“Medusa não fez nada de errado. Na verdade, seu poder de transformar em pedra quem olha em seus olhos só é usado após sua morte, justamente por Perseu. Ela não usa esse poder quando está viva. E, no entanto, tendemos a olhar para isso com horror”, finaliza.
A história distorcida da Medusa e de tantas mulheres na história é refletida até os dias atuais. Até os dias de hoje, mulheres que sofrem abusos sexuais precisam responder a perguntas de policiais e advogados de defesa sobre que roupa estava usando, se já tiveram relações sexuais antes ou o que estavam fazendo na rua àquela hora. A pergunta que fica em pleno século 21 é: Até quando a mulheres serão transformadas em monstros e culpadas por tudo?
Fontes: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e BBC Brasil
Murillo
21/12/2023 @ 18:25
Essa questão da Medusa ser vista como monstro, e não uma vítima, é totalmente válida. Porém, há uma correção a ser feita aqui, e nesse caso, não é sobra a Medusa… e sim sobre Atenas, pois essa não é irmã de Poseidon, e sim, sua sobrinha, já que ela é filha de Zeus e Zeus é irmão do deus dos mares, que é justamente o Poseidon. Só isso… de resto tudo perfeito
Viktor
12/01/2024 @ 09:11
Questionamento seri interessante, se diversos historiadores já não tivesse informado que essa tradução de ela foi “violentada” é errônea. Na tradução correta da obra romana (que nem mesmo é a original) a Medusa e Netuno “violaram” o templo sagrada de Atena, ou seja, foi um ato consensual entre os dois, história essa que é confirmado pelo conto original teogonico, onde Medusa e Poseidon se deitam juntos, dando poucas margens para qualquer outra interpretação. Infelizmente, na sociedade atual, tentam “modernizar” obras antigas trazendo discursos modernos, a ponto de distorcer passagens da obra original. Triste.