Xaropes com soluções para ar-condicionado matam 157 crianças na Indonésia
A Indonésia enfrenta uma terrível onda de mortes de crianças, pelo menos 157 morreram neste ano de insuficiência renal aguda e outras complicações após serem medicadas com xaropes contaminados.
A Indonésia está enfrentando uma terrível onda de mortes de crianças, pelo menos 157 morreram neste ano de insuficiência renal aguda e outras complicações por serem medicadas com xaropes contaminados. Infelizmente, quase todas tinham menos de cinco anos.
O governo proibiu então a venda de todos os medicamentos líquidos. Mais tarde, limitou a proibição para cerca de 100 produtos suspeitos — que haviam sido encontrados nas casas das crianças que adoeceram.
Farmácias de todo o país retiraram xaropes das prateleiras, aconselhando os pais a triturar comprimidos se os filhos precisassem de remédio.
O ministro da Saúde da Indonésia, Budi Gunadi Sadikin, afirmou que vestígios de etilenoglicol, dietilenoglicol e etilenoglicol butílico, substâncias consideradas nocivas, haviam sido encontrados nas vítimas.
O dietilenoglicol e o etilenoglicol são normalmente usados em soluções anticongelantes para ar-condicionados, geladeiras e freezers e como solvente para muitos produtos, incluindo cosméticos, em concentrações muito baixas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que eles nunca são usados em medicamentos.
“Está confirmado que (a insuficiência renal aguda) foi causada por (essas) substâncias”, declarou o ministro.
Os casos ocorreram semanas após a morte de quase 70 crianças na Gâmbia. A OMS informou ter encontrado uma “quantidade inaceitável” de dietilenoglicol e etilenoglicol em quatro xaropes para tosse produzidos na Índia e disponíveis na Gâmbia.
Nada sugere que os dois escândalos estejam ligados. As autoridades indianas e a fabricante Maiden Pharmaceuticals dizem que os quatro xaropes foram exportados apenas para a Gâmbia. A Indonésia afirma que os xaropes feitos na Índia não estão disponíveis localmente.
Na segunda-feira passada, a agência reguladora de alimentos e medicamentos da Indonésia, BPOM, anunciou que investigaria duas empresas farmacêuticas que haviam mudado recentemente os fornecedores de alguns ingredientes, passando de fornecedores farmacêuticos para fornecedores de produtos químicos.
Nadira, de 17 meses, infelizmente foi uma das vítimas. Quando ficou gripada, sua mãe, Agustina Maulani, comprou um xarope de paracetamol para tosse em um centro de saúde no sul de Jacarta, capital da Indonésia.
“Dei o remédio a ela a cada quatro horas, porque a febre se recusava a baixar. Ela se recuperava, mas logo voltava a ter febre. No final, ela parou de urinar”, disse.
Nadira foi levada ao hospital, mas não melhorou. Exames laboratoriais mostraram níveis excessivos de ureia e creatinina, resíduos que se acumulam depois que os rins param de funcionar. Ela entrou em coma e morreu.
“No final, ela faleceu rapidamente. Com uma dor realmente terrível”, conta Agustina, chorando.
Nadira morreu em agosto. Em outubro, as autoridades indonésias disseram que ela fazia parte de um grupo de crianças que morreram de problemas renais inexplicáveis.
Enquanto isso, dezenas de crianças doentes estão recebendo tratamento para insuficiência renal aguda; a Indonésia pediu a Cingapura e Austrália suprimentos de um antídoto raro — fomepizol — para tratá-las.
A tragédia chocou a Indonésia. Na semana passada, o ombudsman do país criticou o Ministério da Saúde e a BPOM, que disse não ter feito o suficiente para testar os produtos à venda e garantir que cumprissem com os padrões estabelecidos.
Fonte: BBC News Brasil