O que movimentou a economia no Brasil e no mundo em janeiro de 2022
A Economia em janeiro de 2022: brasileiros na contramão de estrangeiros
Por Jordanno Santos
Em janeiro de 2022, apesar do mês historicamente fraco em termos de movimentação financeira por conta das férias de início de ano, observamos a ocorrência de um grande evento que explicita boa parte do que está acontecendo no cenário local e global. Estamos falando do fluxo de capital estrangeiro entrando no Brasil.
Somente no primeiro mês do ano, os estrangeiros alocaram R$ 32,5 bilhões na bolsa brasileira, um dos melhores meses de entrada de recursos nos últimos 10 anos. Por outro lado, os brasileiros retiraram R$ 35,1 bilhões da nossa bolsa, migrando boa parte disso para renda fixa.
Nessa visão simplista, vemos claramente os investidores brasileiros na contramão dos estrangeiros. Todavia, analisando mais de perto, podemos perceber que, na visão dos brasileiros, o cenário político-eleitoral será volátil, e de fato será, e mais, agora, a renda fixa, o famoso CDI, já está rentabilizando quase 1,00% ao mês, novamente, com a SELIC iniciando o ano em 9,25% e podendo atingir 12,00% na primeira metade do ano. Logo, para que correr todo este risco eleitoral, se a renda fixa ficou tão vantajosa?
Por outro lado, na visão dos investidores estrangeiros, a bolsa no Brasil descolou para baixo do resto do mundo, ou seja, em 2021, nosso IBOVESPA rentabilizou -11,93%, enquanto as bolsas globais medida pelo MSCI WORLD valorizaram +20,14%, ficamos bem para trás. Aqui, já é possível notar que o estrangeiro vê a nossa bolsa barata em relação ao mundo, estamos descontados.
Mas não é só isso, a inflação global também está influenciando esse comportamento. Os principais bancos centrais ao redor do mundo não elevaram juros ao longo de 2021, mesmo com uma inflação 4 vezes acima da média dos últimos 20 anos. E agora, em 2022, vão correr atrás do tempo perdido, elevando suas taxas básicas de juros muito mais rápido do que o esperado. Felizmente, o Banco Central do Brasil já fez seu papel e elevou a SELIC já em 2021.
A situação do investidor global é a seguinte, vão conviver com inflação elevada e juro mais elevado do que o esperado, coisa que não acontecia em muito tempo. E por conta disso, estão observando que empresas globais que se beneficiaram de inflação baixa e juro baixo nos últimos anos podem sofrer agora nesse novo cenário, e por conta disso, estão reduzindo (marginalmente) sua posição nesses ativos e comprando ativos baratos (nossa bolsa).
É um cenário que podemos esperar para todo o ano? Provavelmente não, há claramente um limite de exposição em países emergentes, que é o caso do Brasil, logo, não é nada factível esperar que todo mês entre montantes na casa dos R$ 30,0 bilhões. Por outro lado, de fato, eles estão certos em uma coisa, nossa bolsa está descontada, e também nós brasileiros estamos certos, o processo eleitoral será volátil.
Nesse contexto, no mês, os títulos públicos indexados à inflação (Tesouro IPCA ou NTN-B) rentabilizaram em média -0,73%, os títulos públicos prefixados (Tesouro Prefixado ou LTN e NTN-F) rentabilizaram -0,08% enquanto os títulos públicos pós-fixados (Tesouro SELIC ou LFT) rentabilizaram 0,83%, acima do ativo livre de risco, representado pelo CDI, que variou 0,73% no período.
Na bolsa, o IBOVESPA, principal índice acionário brasileiro, rentabilizou 6,98% enquanto o MSCI WORLD, S&P 500 e NASDAQ, principais índices globais de ações, rentabilizaram -5,34%, -5,26% e -8,98%, respectivamente.
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Sobre o autor:
Jordanno Brunno Nicoletta dos Santos é graduado em Ciências Atuariais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo (USP). É sócio diretor na i9Advisory Consultoria, uma consultoria de investimentos independente.