Diálogo, parceria e flexibilidade guiam ações no Jd. Lapena diante do coronavírus
A Fundação Tide Setubal atua no desenvolvimento do Jardim Lapena, bairro com 14 mil habitantes na zona leste de São Paulo (SP)
Por: Andrelissa Ruiz e Marcelo Ribeiro Silva
O ano de 2020 reforçou que a transformação da realidade de um território periférico requer o fortalecimento dos sujeitos e a melhoria da infraestrutura e do acesso às oportunidades de qualidade. Conectar as potencialidades locais com as oportunidades que chegavam de parceiros externos desde março foi extremamente importante para a capilaridade e a efetividade das ações da Fundação Tide Setubal, isto é, para chegar, muitas vezes, aonde as instituições não chegam. O fortalecimento desse tecido social é essencial tanto para as articulações para o desenvolvimento do bairro, como para o enfrentamento de crises, pois sabemos que, nas periferias, o coronavírus é apenas mais um desses vilões que os moradores enfrentam todos os dias.
A área da Prática Local da Fundação atua no desenvolvimento do Jardim Lapena, bairro com 14 mil habitantes na zona leste de São Paulo (SP), onde a instituição coadministra desde 2006 um equipamento social, o Galpão ZL, junto com a Sociedade Amigos do Jardim Lapena. Ali 53% dos moradores estão vivendo em alta vulnerabilidade, segundo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social 2010. Com o fechamento do comércio e as pessoas perdendo seus empregos, a primeira ação na pandemia foi a entrega de 2 mil cestas, seguida por 2 mil cartões-alimentação, a partir de um mapeamento realizado por moradoras que formaram naquele momento o grupo “Guardiãs da Comunidade”, hoje com 65 integrantes.
Assim como os 16 times de futebol do território e as organizações locais, essas guardiãs foram essenciais para um trabalho integrado que conseguisse alcançar até as áreas mais difíceis do bairro, garantindo agilidade para as doações. Com essa ação conjunta, conseguimos entregar pelo território: 108.610 máscaras, 10.060 frascos de álcool e a instalação de 10 lavatórios (parceria com Florescer e Médicos sem Fronteiras) em áreas sem saneamento básico, assegurando um lugar para a higienização das mãos.
Um ponto de atenção é que o Jardim Lapena não possui hospital, e a maior parte da sua população é atendida pelo Hospital Municipal Tide Setubal. Por isso, a equipe da Prática Local manteve um diálogo constante com a direção do hospital, apoiando diversas necessidades. Foram doados: 1.070 aventais, 30 mil luvas, 2 mil propés, 3 mil toucas, 15 litros de álcool, 40 mil máscaras, 1.400 máscaras N95, 15 mil aventais descartáveis e instalação de 3 geradores de energia.
Além das ações de atendimento emergencial, construímos, junto com parceiros locais e externos, iniciativas que também trouxessem suporte a outras áreas:
Educação: CENPEC atendendo famílias com filhos em fase de alfabetização; pesquisa participativa sobre a volta às aulas e construção de um plano de apoio.
Tecnologia: bot-WhatsApp com dados sobre a Covid no bairro e serviço de delivery com comércios cadastrados; apoio para o retorno do telecentro ao bairro (parceria com Sociedade Amigos do Jardim Lapena e Projeto Gerusa).
Empreendedorismo: formações para a transição para o trabalho online; fomento a negócios com soluções para a Covid, como um coletivo de costureiras para a confecção de 7.200 máscaras e o Moradigna, que orientou 7 mulheres a reformarem seus banheiros.
Literatura: doação de 1.947 livros; projeto Bike Literária com livros entregues nas casas dos moradores, enquanto as bibliotecas estão fechadas.
Comunicação: spots “Quarentena Periférica”, produzido pela agência 2PCom, em parceria com Instituto Alana, para orientar os moradores sobre as questões que envolvem o coronavírus.
Assim, esse momento histórico deixa novos aprendizados e reforça outros como a importância da escuta aos moradores do território de atuação, a flexibilidade e o dinamismo sobre o planejamento institucional, quando se atua em parceria, a importância da organização social fazer parte do tecido social local e a confiança de não ser vista como um agente externo, e sim como mais um agente da região. Tudo isso muda completamente a relação e a atuação e permite resultados mais rápidos e eficazes.
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Sobre os autores:
Andrelissa Ruiz é comunicadora social, com especialização em redes digitais e sustentabilidade e mestranda em mudanças sociais e participação política. É coordenadora de Prática Local da Fundação Tide Setubal e gestora de participação.
Marcelo Ribeiro Silva é formado em administração, com habilitação em marketing, com especialização em gestão de esportes. É coordenador de Prática Local da Fundação Tide Setubal e gestor do Galpão ZL.