Organizações do Terceiro Setor ou Negócios Sociais?
Por Alexandre Amorim
Há muitas décadas, o terceiro setor vem agindo com força perante desafios sociais latentes no nosso dia a dia. Isso possibilitou que populações que antes tinham seus direitos marginalizados começassem a ser atendidas das mais diversas formas. Porém, ao ver as demandas sociais aumentando em uma velocidade maior do que sua capacidade de crescimento, esse setor começou a buscar novas formas de financiamento e de sustentabilidade financeira.
Por outro lado, o segundo setor (empresas com fins lucrativos) seguiu, por muitas décadas, exclusivamente sua finalidade lucrativa. Na maior parte das vezes, as empresas pouco se importavam com a forma de obtenção de lucro: poluindo, sem segurança no trabalho, com péssimas condições de trabalho, com produtos que geram mazelas sociais, com cadeias de fornecimento insustentáveis, entre outros.
Já o poder público (primeiro setor) vem colocando regulações que orientam ações empresariais visando a prevenção de impactos negativos e, ao mesmo tempo, estabelecendo parcerias com o terceiro setor para mitigar problemas sociais nas mais diversas áreas: saúde, assistência, educação, cultura e afins.
Nos últimos anos, o abismo de objetivos entre o segundo e o terceiro setor vem diminuindo drasticamente. Empresas começaram a falar de propósito e organizações sociais que antes se mantinham apenas com doações começaram a entrar na “lógica capitalista” e atuar com comercialização de produtos e serviços que geram impacto social. E nessa fricção das atuações, surgiu nas mãos do Prof. Muhammad Yunus os chamados negócios sociais: empresas que comercializam produtos e serviços com modelos de negócios sustentáveis e com a intenção maior de gerar transformação social.
E agora, qual é o papel das organizações sociais e dos negócios sociais? Será esse o fim das organizações do terceiro setor? Será que eles podem trabalhar juntos ou concorrem entre si?
Nós da Ago Social consideramos que ambos são fundamentais para a transformação da nossa sociedade e tem papéis complementares de atuação.
Os negócios sociais, na maior parte das vezes, atuam com problemas específicos e se utilizam de uma oportunidade de mercado para crescimento. Negócios sociais para reformas de população de baixa renda, negócios sociais que levam aulas de inglês para populações carentes, negócios sociais que estruturam cadeias sustentáveis na pesca artesanal gerando renda e qualidade de vida, negócios sociais que ensinam tecnologia a jovens gerando emprego e renda, entre muitos outros.
Já as organizações sociais, na maior parte das vezes, não atacarão uma dor tão específica. Terão uma abordagem mais sistêmica, levando soluções diretas, mas também atuando na defesa de direitos, influenciando políticas públicas e especialmente atuando em demandas abrangentes que não conseguem ter uma comercialização e retorno financeiro. Além disso, o terceiro setor tem uma capilaridade muito significativa no país, e podemos olhar como exemplo as campanhas de alimentos durante a pandemia.
As lógicas de sustentabilidade financeira são distintas, mas há muita possibilidade de atuação em conjunto: negócios sociais levarem soluções através da capilaridade de organizações sociais, aumentando a transformação social de ambos e possivelmente gerando renda para as organizações sociais. Outra possibilidade está na troca de conhecimentos e tecnologias, pois muitas vezes os negócios sociais pensam em escala e utilizam tecnologia para isso, enquanto as organizações sociais conhecem o dia a dia das populações com mais profundidade.
Você já pensou em alguma possível parceria nesse sentido? Já pensou que o propósito é o mesmo e podemos ter uma soma de esforços? Já avaliou que não existe modelo melhor, mas sim modelos complementares? Procure conhecer as diferentes organizações e negócios sociais que atuam na sua área. Estabeleça parcerias e esteja aberto a ver que juntos iremos muito mais longe e que os problemas são grandes demais para querermos resolver sozinhos!
Sobre o autor:
Alexandre Amorim é empreendedor social, cofundador da ASID Brasil e da Ago Social, além de investidor em negócios sociais. Administrador especializado em Empreendedorismo Social, é formado em Harvard, Stanford, INSEAD e Fundação Dom Cabral, fazendo parte da Forbes Under 30.
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