DSTs: um problema do qual precisamos falar – Parte I
Doenças que surgiram no passado, enfrentamos no presente e queremos eliminar no futuro
As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) causam grande transtorno ao ser humano, mas parecem estar caindo no esquecimento de muitos, o que leva à falta de cuidados e à consequente infecção.
Entre tantas DSTs que podem ser contraídas, a mais crítica é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Os primeiros casos no Brasil foram detectados em 1980 e desde então eles só têm aumentado – embora o número de mortes pela doença tenha caído.
Muitas vidas foram perdidas nas décadas de 80 e 90, pois não havia informação e tratamento a respeito da doença. Hoje, além de um estudo avançado sobre o vírus HIV, causador da AIDS, estão disponíveis os remédios adequados para tratamento.
O uso correto desses medicamentos evita o avanço da doença e problemas como a perda da visão e a falta de memória, por exemplo, além de prolongar a vida do paciente. Mas ainda não existe nada que possa curar a AIDS.
O Brasil na contramão do mundo
Por que será que, mesmo com tanta informação e campanhas a respeito das DSTs, as pessoas continuam contraindo cada vez mais o vírus HIV? Por que elas estão deixando de lado os cuidados que devem ser tomados a cada relação sexual? Os casos de AIDS vêm diminuindo consideravelmente em todo o mundo, então por que no Brasil os casos estão aumentando?
Em uma entrevista para nosso programa de rádio, o médico infectologista Jean Carlo Gorinchteyn, do Instituto Emilio Ribas, disse que os jovens continuam olhando seus parceiros com um aspecto de estereótipo de saúde. Isso significa que eles acreditam que se a aparência do parceiro é saudável, ele não pode ter uma doença como a AIDS, portanto, é seguro manter relações sexuais sem preservativo. Uma lógica perversa que coloca muitas pessoas em risco.
Gorinchteyn também retratou a visão dos estrangeiros a respeito do aumento do índice de HIV no país. Eles dizem que no Brasil a doença está aumentando justamente porque os remédios são distribuídos gratuitamente e são de fácil acesso. Isso gera certo conforto aos jovens, que sabem que, se por acaso eles adquirirem o vírus, conseguirão os remédios e serão tratados como se estivessem com pneumonia. Mas a noção de que a AIDS não tem cura e de que o tratamento é para o resto da vida está sendo deixada de lado na cabeça da população.
Uma bactéria do período colonial
Outra doença que vem aumentando cada vez mais pela falta de proteção é a sífilis. Causada pela bactéria Treponema Pallidum, a sífilis está presente em nosso país desde a época do Brasil Colonial. Ela não mata, mas gera muitas mudanças e desconfortos no corpo humano, como feridas, febre e dores musculares. Em casos mais graves, ela pode até atingir o sistema nervoso e a visão.
Outro problema da sífilis é que ela não é transmitida somente através de relações sexuais, mas também pode ser transmitida de mãe para filho, através da placenta, ou na hora do parto, quando ele é normal. No caso de mães infectadas com a sífilis, a cesariana é a opção mais de segura para o bebê.
Os números
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, os casos de sífilis aumentaram em torno de 600% em adultos no período de seis anos no Estado de São Paulo e os casos de gestantes aumentaram mais de 1000% de 2005 até 2013, o que equivale a 21.382 casos.
Já os casos de AIDS aumentaram 40% de 2006 a 2015 na faixa etária de 15 a 24 anos, segundo o Ministério da Saúde.
A participação de ONGs no combate à AIDS
Existem diversas ONGs que defendem os Direitos Humanos e a integração das Pessoas portadoras de Síndrome da Imunodeficiência Humana AIDS/SIDA na sociedade. Entre elas está a Rede Nacional de Pessoas Vivendo Com HIV/AIDS (RNP+ Brasil), que faz trabalhos de ajuda mútua a pessoas portadoras do vírus, além do monitoramento das políticas públicas de AIDS.
O secretário nacional da informação da RNP, Paulo Giacomini, disse que o Estado de São Paulo é um dos menos críticos no índice de AIDS no país, e que o fato de os jovens estarem se colocando em risco faz parte de um valor da sociedade. “As pessoas estão, muitas vezes, atrás de aventura. Querem pular de paraquedas, andar de bicicleta no meio dos carros, aliar álcool e direção. E elas levam isso para a vida sexual também.”
Outro ponto que ele destaca é que é possível o aumento nos índices de casos de infecção por HIV não signifique, necessariamente, que mais pessoas estão contraindo o vírus. Isso pode ser fruto do acesso mais simples e rápido ao diagnóstico. “A gente não sabe se o aumento do índice de HIV é devido à maior oferta do diagnóstico. Isso tem que ser acompanhado por mais alguns anos, para sabermos se realmente é uma tendência de elevação da infecção no Brasil e de decréscimo no resto do mundo”.