DSTs: um problema do qual precisamos falar – Parte II
O depoimento de quem vive com o vírus da AIDS, já sofreu preconceito e hoje busca levar informação para quem precisa de ajuda.
Para dar continuidade à matéria sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs – http://goo.gl/Vaa7gk), conversei com o designer Vitor Silba, 28, integrante do Grupo de Incentivo à Vida (GIV) e portador do vírus HIV.
A descoberta
Após passar dois anos na Índia, Vitor retornou ao Brasil e fez o teste para AIDS. O resultado positivo foi uma surpresa. Chegou a pensar em se matar, pois achava que ele tinha se tornado uma bomba relógio e iria morrer de qualquer jeito. Ele pesquisava diversas formas fáceis de se matar, como “fazer xixi na cerca elétrica e coisas do tipo”, segundo ele afirma.
Após entrar para o Grupo de Incentivo à Vida (GIV), ele se deparou com pessoas portadoras de HIV e que estavam felizes, conversando, se divertindo e tendo uma vida normal. Foi através das reuniões em grupo e com as novas amizades que ele começou a ter coragem de seguir em frente e se cuidar.
“Hoje eu não me vejo mais como uma bomba relógio, o que é muito bom”, ele diz após dois anos de participação no grupo.
O Preconceito
Apesar de os primeiros casos de AIDS terem sido detectados no Brasil há mais de 30 anos, os portadores da doença ainda convivem com uma série de estigmas. Vitor afirma que “o preconceito não é apenas com quem tem HIV, mas também com o homossexual, o negro etc.”. Mas os índices de homens e mulheres heterossexuais que são portadores do vírus também são altos.
O que é contraditório é que mesmo com campanhas e disponibilização de testes, remédios e preservativos, o assunto “AIDS” ainda é falado com constrangimento para muitas pessoas. “Talvez isso faça parte da cultura da nossa sociedade. Uma parte que deve ser mudada”, ele declara.
“Outro motivo de as pessoas sustentarem o preconceito é a falta da informação. Existem diversas formas de prevenção da AIDS, não só a camisinha como a maioria das mídias diz”. Vitor Silba, junto com o GIV, busca levar informação para os jovens, eles sendo portadores ou não do vírus. O conhecimento sobre o assunto é muito importante para o fim do preconceito e da própria epidemia.
Conselho de quem sabe
Vitor aconselha aqueles que possuem AIDS: “Tome os remédios; não sabemos os efeitos colaterais ao certo e nem por quanto tempo o efeito pode durar, mas é o jeito mais fácil de se sentir seguro e, caso a camisinha estoure durante uma relação sexual e se você estiver em tratamento, a chance de passar o vírus para outra pessoa é mínimo.”
E para quem não tem AIDS ele diz: “É claro que a camisinha é um método eficaz, barato e de fácil acesso, mas se você não gosta, por determinado motivo, de usar a camisinha, busque se informar e procurar outros métodos de prevenção.”
O atendimento nas unidades de saúde
Segundo Vitor, nem mesmo os médicos e enfermeiras do Serviço de Atendimento Especializado (SAE) estão preparados para atender um paciente com HIV, pois eles não passam as informações completas sobre métodos preventivos e detalhes sobre os benefícios da medicação. Com isso, muitos jovens se sentem desmotivados e se cansam de tomar o coquetel, e quando param podem ficar doentes e transmitir o vírus a outras pessoas.
Outro ponto que Vitor destaca é que as camisinhas masculinas são dadas aos montes para quem quiser, já que ficam disponíveis em todos os postos de saúde, mas e as camisinhas femininas? E o lubrificante? Para ter acesso à camisinha feminina e ao lubrificante, o(a) jovem precisa ir direto ao balcão da recepção pedir, o que constrange a muitos deles, principalmente porque as mulheres e os homossexuais costumam ser vítimas de uma série de julgamentos da sociedade em relação ao sexo. Além disso, de acordo com Vitor, quando os postos têm camisinhas femininas e lubrificantes, eles estão sempre em pequenas quantidades.
O incômodo maior
O sigilo é algo que não é respeitado. Vitor conta ter passado por momentos constrangedores ao pegar a medicação na farmácia e até mesmo para realizar viagens no aeroporto. Ele diz que “para um infectado embarcar num voo com toda a medicação, precisa apresentar atestado médico com comprovação de que ele tem HIV. Assim, todos sabem que ele é portador do vírus, passando por mais constrangimento e por eventuais tipos de preconceito”.
“É fato que os jovens estão perdendo o medo do HIV. Mas ter AIDS não é só tomar remédio, é ter que enfrentar a opinião alheia e ainda assim lutar para estar bem; é pensar no próximo para não prejudicar ninguém”.
No ano de 2015, Vitor deu mais de 60 palestras sobre o assunto. Para ele, a melhor forma de liberdade que ele encontrou foi através do GIV.
Todas as informações detalhas sobre o HIV/AIDS, além das outras formas de prevenção, podem ser encontradas no site do GIV. O grupo apresenta reuniões entre jovens e especialistas para aqueles que queiram participar.