Identidade: uma compreensão necessária
Compreender o que significa Identidade é de fundamental importância para a reflexão de temas centrais como diversidade, identidades de gênero, orientação sexual, sexo, etnia, família, classe social, religião, direitos humanos, entre outros temas que estão sendo discutidos no universo acadêmico, bem como no cotidiano dos inúmeros cidadãos brasileiros.
Contudo, para a compressão dessa gama de debates e posições antagônicas e permeadas de questões objetivas e subjetivas, se faz necessário resgatar e entender os diferentes processos históricos no seu contínuo movimento.
O professor Kabengele Munanga, do departamento de Antropologia da USP, também chama a atenção de que o conceito de identidade evoca os conceitos de diversidade, que ora mantêm relações dialéticas e ora excludentes. É nesse contexto que a diferença está na base dos diversos conflitos que unem e desunem, criando uma série de manipulações político-ideológico voltadas para construções racistas, classistas e machistas.
Dessa forma, ao refletir criticamente acerca do significado da construção de Identidade(s), é possível compreender as transformações culturais, sociais, políticas e ideológicas ocorridas em todas as sociedades, em especial no século XX e início do século XXI. Neste contexto, os “Estudos de Gênero” têm sido centrais desde a década de 70 e vêm ganhando força ainda maior na atual conjuntura. O movimento feminista, a revolução sexual, as mudanças no mundo do trabalho e na família etc. favoreceram para introduzir no debate público discussões que antes eram consideradas tabus.
Os primeiros estudos de gênero referiam-se às questões das desigualdades que as mulheres eram submetidas na vida social e no âmbito familiar. Porém, atualmente esses estudos expandiram e incorporaram outras questões como raça e orientação sexual.
É no campo da diversidade que os estudos de gênero passaram a fazer parte do debate público. No Brasil essas discussões (gênero, orientação sexual, igualdade racial) tomaram uma dimensão maior a partir da elaboração do Plano Nacional de Educação em 2014.
Entretanto, os “Estudos de Gênero” foram substituídos erroneamente pela “Ideologia de Gênero”, na qual uma parte da sociedade conservadora (políticos, Igreja, etc..) iniciaram uma campanha nacional em todas as escolas e nos meios de comunicação contra o Plano.
O resultado lamentável do “Golpe Parlamentar” de 2016 foi a retirada das palavras “gênero”, “identidade de gênero”, “orientação sexual” e “educação sexual” do Plano Nacional de Educação.
Para compreender essa conjuntura no Brasil, é preciso olhar para o passado para entender criticamente o presente. Racismo, preconceito, sexismo, patrimonialismo e conservadorismo sempre fizeram parte da nossa trajetória e formação da nossa identidade. Infelizmente, ainda estão fortemente marcadas e não superadas em todas as esferas públicas e privadas.
Um exemplo lamentável é da recente visita ao Brasil da filósofa norte-americana Judith Butler, referência em estudos de gênero e da teoria queer e ativista de movimentos sociais/feministas. A filósofa foi agredida verbalmente por grupos conservadores no dia de sua palestra no SESC/SP e no aeroporto de Guarulhos. Sobre os discursos agressivos, a filósofa comenta: “É motivo de preocupação ver tantas pessoas movidas pela ignorância… o mundo que os conservadores querem destruir, o mundo gay e lésbico, o mundo trans, o mundo feminista, já é muito poderoso”.
As questões acima mencionadas são relevantes para caminharmos na direção de uma reflexão crítica da categoria identidade, no que tange às diversas questões e atores sociais presentes na arena pública no século XXI. Para isso, entender a construção e a importância da(s) “Identidade(s)” torna-se fundamental perante as mudanças de paradigmas, valores e comportamentos que ocorrem de maneira interrupta no âmbito global e que tem como centralidade a defesa dos direitos humanos na sua totalidade.
Aldeane
13/12/2017 @ 16:22
Penso que é importante a autocrítica quando se trata de questão de gênero, identidade sexual, racismo e tantas outras formas de preconceito, pois não é incomum realizar a defesa de tais temáticas apontando para uma direção libertária e agir no campo conservador, não acha?