Religião e Política se discutem?

O velho ditado popular que “Religião e Política não se discutem” tem sido exaustivamente citado pela grande maioria das pessoas, principalmente em tempos de polarização na política brasileira e de questões voltadas às religiões.

Nos últimos meses, tenho refletido muito sobre essa frase pois em muitos momentos no âmbito particular com alguns familiares e amigos tais discussões têm gerado muitos conflitos e incômodo quando o assunto é política ou religião. Porém não para mim, mas para as outras pessoas.

Refleti muito, e cheguei a algumas conclusões nos meus últimos dias de “ócio criativo”.  Religião e política se discutem, sim. Mas vai depender com quem estamos falando e a sua disposição de compartilhar diferentes visões, pontos de vista, valores e conhecimentos diversos.

Acredito que a política está no campo do conhecimento racional que envolve diversas áreas de estudos e pesquisas, abrangendo diversos paradigmas. Sendo assim, não é no campo do senso comum e nem da mera opinião do grande “rebanho” que haverá um diálogo que favoreça a troca de conhecimento e reflexão sobre todos os aspectos da política.

Já a esfera da religião diz respeito ao campo da fé, da individualidade e subjetividade de cada um de nós. Mas, mesmo nesse campo, é possível indagar, questionar e criticar a partir do conhecimento racional a história das religiões e sua influência nos diversos contextos da humanidade. Entretanto, para isso é preciso ter tanto conhecimento como disponibilidade e abertura para a reflexão. Isso não é fácil, pois nos deparamos com um excessivo fanatismo e cegueira da grande maioria das pessoas sejam elas católicas, evangélicas, budistas, entre outras. Essas pessoas resistem em questionar, duvidar de suas certezas impostas pelos “iluminados” pastores, padres, mestres, mentores, guias, etc.

Penso que diante disso, para elas é mais cômodo (ou menos dolorido) pensar suas verdades, ou as verdades impostas sutilmente. A bolha, a proteção e a fuga fazem parte de uma sociedade cada vez mais individualizada, medrosa, egoísta e consumista, em que o mundo sobrenatural é a única solução. Algemas cruéis revertidas de liberdade e salvação.

Gosto muito do livro “Diálogos Criativos”, do grande Frei Beto. O livro é uma conversa sobre o mundo que vivemos, entre Frei Beto e Domenico Damásio. Um teólogo e um sociólogo que compartilham conhecimentos mesmo sendo diferentes. O autor ressalta que isso só é possível porque existe uma linguagem em comum entre eles, pois caso contrário, não haveria diálogo, e sim uma discussão conflituosa.

Enfim, é nessa corrente de busca contínua do conhecimento, da reflexão, da dúvida, do questionamento, da crítica, que podemos ter diálogos em que a ofensa e a raiva jamais estejam presentes, pois estamos abertos para crescer e pensar o mundo em todas as suas dimensões. Somos seres humanos em estado contínuo de crescimento. Como dizia Rosa Luxemburgo: “Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem.”.