Brasil gasta mais em campanha de volta às atividades que de vacinação
Após gastar R$ 30 milhões com vídeos incentivando volta às atividades presenciais, Ministério das Comunicações investiu R$ 5 milhões com campanha de vacinação para combater a Covid-19
Por: Mariana Lima
O Ministério das Comunicações do Governo Federal (MCOM) gastou R$ 5 milhões com a primeira campanha exclusiva sobre as vacinas contra a Covid-19, realizada pela pasta até abril de 2021.
As informações foram repassadas pelo próprio Ministério para análise da Agência Pública por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
O valor da campanha, veiculada três meses após o início da vacinação no país, foi um sexto do investido na campanha sobre retomada das atividades.
No total, o Ministério realizou sete campanhas sobre a Covid-19 desde 2020, incluindo as realizadas pela então Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).
Os valores não incluem gastos e campanhas realizadas por outros ministérios sem a participação do MCOM. A campanha sobre a vacinação é a mais recente delas, veiculada entre 17 e 30 de abril, e teve o segundo menor investimento.
Uma campanha sobre os riscos da doença no início da pandemia, que contou com a participação de figuras como Otávio Mesquita, Felipe Melo, Sikêra Júnior, Zezé di Camargo e os palhaços Patati e Patatá, registra o maior investimento. Segundo o governo, essas participações foram voluntárias.
Já para a campanha que incentivou a retomada das atividades “com segurança”, o Ministério das Comunicações investiu R$ 30 milhões. Veiculada de 20 de julho a 16 de agosto de 2020, essa campanha produziu vídeos de incentivo à retomada das atividades mediante “cuidados”.
Em um deles, uma mulher que se identifica como caminhoneira em Pernambuco diz sorridente “vamos voltar, gente, vamos seguir em frente, só que um cuidando do outro, um protegendo o outro”. Em outra peça, uma mulher empresária diz “nós queremos muito continuar e voltar a trabalhar, com responsabilidade, com cuidado. E a gente confia que as coisas vão melhorar”.
Segundo o governo, a campanha pela retomada das atividades teve 4,7 mil inserções na TV e quase 36 mil em rádio. A campanha de vacinação, veiculada em 15 dias de abril, teve 59 inserções em TV e 198 em rádio.
Outras campanhas, a mesma ideia
A campanha pela retomada de atividades durante a pandemia não foi a primeira ação nesse sentido realizada pelo Governo Federal.
Em março de 2020, o governo publicou peças com o slogan “Brasil Não Pode Parar” no perfil oficial no Instagram e Twitter. Na mesma época, em pronunciamento em rede nacional, Jair Bolsonaro (Sem Partido) afirmou que era preciso conter a histeria, que o vírus “brevemente passará” e que “devemos, sim, voltar à normalidade”.
As peças com o slogan “O Brasil Não Pode Parar”, contudo, não estão incluídas nos dados e valores informados pelo Ministério das Comunicações à reportagem.
Na época, a Secom afirmou que o vídeo havia sido “produzido em caráter experimental, portanto, a custo zero e sem avaliação e aprovação da Secom” e que “a peça seria proposta inicial para possível uso nas redes sociais”. A Secom ainda afirmou que a imprensa teria agido de “maneira irresponsável” divulgando a campanha.
O gasto para divulgar o “atendimento precoce”
Realizada pelo próprio Ministério das Comunicações, a campanha que incentivou o tratamento precoce, veiculada no final de 2020, teve um custo de R$ 19,9 milhões.
De acordo com a Agência Pública, essa campanha direcionou mais de R$ 1,3 milhão para pagar ações de marketing com influenciadores, como a ex-BBB Flávia Viana.
Na ação, o governo orientou os influencers a dizer aos seguidores que é “importante que você procure imediatamente um médico e solicite um atendimento precoce”, caso sentissem sintomas da covid.
Além de mais cara, a campanha de incentivo ao atendimento precoce esteve no ar por mais tempo que a da vacinação: 2,5 meses da primeira em comparação a 15 dias da segunda. Também foi veiculada mais vezes em mais mídias: foram 289 inserções em TV e mais de 24 mil em rádio.
O governo também informou que a campanha de atendimento precoce teve mais de 90 milhões de visualizações na internet e quase 14 milhões em mídia exterior, como outdoors.
Mais cara, mas não a que deveria ser importante
A campanha mais cara realizada pelo Ministério das Comunicações no contexto da pandemia foi a voltada para anunciar medidas de “cuidado” com estados e municípios, com R$ 35 milhões investidos.
As ações, realizadas junto ao Ministério da Saúde, propagandearam o auxílio emergencial, envio de recursos pelo governo federal e compras de equipamentos de proteção (EPIs).
Um dos vídeos também cita 12 milhões de medicamentos distribuídos que teriam “ajudado no tratamento de milhares de brasileiros”, sem citar o nome desses medicamentos. A campanha, que também reforça o uso de máscaras, foi veiculada de 22 de junho a 10 de julho de 2020.
Segundo os dados da pasta, diversas campanhas custaram bem mais que a de vacinação. No topo, está a Agenda Positiva, campanha para mostrar “como cada ato do governo beneficia diretamente o cidadão e faz mudar seu dia a dia para melhor”, segundo palavras do próprio ex-secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten.
De acordo com a apuração, a Agenda Positiva já passa dos R$ 39 milhões gastos com agências contratadas pelo governo.
Outra campanha com custos bem mais altos que a de vacinação, também realizada pelo MCOM, é a que divulgou a imagem positiva do Governo Federal no exterior.
A campanha “Brasil no Exterior”, que começou a ser gestada ainda em 2019 como resposta à repercussão negativa do governo brasileiro na imprensa internacional, sobretudo a partir das queimadas na Floresta Amazônica, já custou mais de R$ 27 milhões.
Fonte: Agência Pública