Brasileira morta em atentado sonhava em ter o próprio restaurante
A baiana Simone Barreto Silva, de 44 anos, morava há quase 30 anos na França. Ela foi morta a facadas em um atentado na basílica de Nice. Em seus últimos momentos em vida, pediu que dissessem para os filhos que os amava
Por: Mariana Lima
No dia 29 de outubro, Simone Barreto Silva, de 44 anos, estava na basílica de Notre-Dame, localizada na cidade de Nice (França). A baiana, naturalizada cidadã francesa, tinha o hábito de ir diariamente ao local. Contudo, o seu dia e a sua vida foram interrompidos por um jovem de origem tunisiana.
Era por volta de 8h30 da manhã (4h30 no Brasil) quando ela e outras duas pessoas foram atacadas à faca pelo jovem. Ele carregava uma sacola com uma cópia do Alcorão (livro mulçumano), dois celulares e três facas com lâminas de 17cm.
Três pessoas foram golpeadas no pescoço, mas apenas a brasileira conseguiu sair da catedral ainda com vida e pedir ajuda. Uma senhora de 70 anos e o sacristão da catedral morreram no local. De acordo com as autoridades francesas, o atentado durou aproximadamente 25 minutos.
Simone conseguiu chegar até um restaurante do outro lado da rua. No local, contou o que havia acontecido. Dois funcionários do restaurante foram até a catedral, mas saíram correndo ao serem ameaçados pelo jovem.
Simone, apesar de receber ajuda dos funcionários, morreu antes da chegada dos socorristas. Ela aguardou por quase 1h e meia e, pouco antes de morrer, fez um pedido às pessoas que a ajudaram: “Digam aos meus filhos que amo eles”.
Simone era mães de três crianças, entre 6 e 15 anos. Há pouco tempo havia se formado em gastronomia, o primeiro passo para o caminho que trilhava em direção ao sonho de abrir seu próprio restaurante de comidas brasileiras na França.
Ela trabalhava como cuidadora de idosos, mas também promovia e participava de eventos no país ligados à cultura brasileira.
Nascida no subúrbio de Salvador, Simone morava na França há quase 30 anos com três de suas irmãs mais velhas. Todas fizeram carreira como bailarinas de samba.
Simone veio para o solo francês ainda adolescente com uma companhia de dança, a Oba Brasil, criada há 20 anos e que realiza apresentações por toda a Europa.
Em 2019, elas chegaram a participar da Ala Mulheres na resistência da Lavagem de Madeleine, um evento cultural brasileiro que ocorre em Paris há 19 anos.
Após os primeiros alertas, a polícia chegou pouco antes das 9h da manhã na basílica. Quatro guardas municipais tentaram conter o agressor, que os ameaçava e gritava em árabe “Alá é o maior”. Como não conseguiram contê-lo com as pistolas elétricas, atiraram.
O agressor, identificado como Brahim Aouissaoui, foi baleado e detido pela polícia. Até o momento, teve que passar por duas cirurgias. Na mesma noite do crime, um suspeito de ser cúmplice de Aouissaoui foi detido para ser interrogado.
O atentando ocorre em meio as tensões entre países do Oriente Médio e a França. Duas semanas antes do atendado de Nice, um professor de história foi decapitado no país após dar uma aula sobre liberdade de expressão em que mostrava caricaturas do profeta Maomé.
Fonte: El País Brasil | BBC Brasil | UOL