Campanha de vacinação contra poliomielite não atinge percentual esperado
Diante dos baixos índices de imunização, especialistas alertam a possibilidade da poliomielite voltar a circular no Brasil; a Fundação José Luiz Edygio Setúbal, em parceria com o UNICEF, realizará uma Busca Ativa Vacinal no país para reverter o cenário
Por Ana Clara Godoi
A cobertura vacinal da poliomielite atingiu 65,6% do público esperado na Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação de 2022, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A ação ocorreu entre 8 de agosto e 30 de setembro, com objetivo de alcançar no mínimo 95% das crianças de 1 a 5 anos de idade.
A poliomielite, conhecida como paralisia infantil, é uma doença infectocontagiosa causada pelo poliovírus selvagem. Transmitido através de secreções, o poliovírus provoca uma inflamação na medula ou no cérebro, causando paralisia na musculatura. Em casos mais graves, a infecção pode afetar a musculatura respiratória, fazendo com que a vítima precise de aparelhos respiratórios ou até mesmo levando a morte.
A doença foi eliminada de diversos continentes após o sucesso das campanhas de vacinação; no Brasil, o último caso foi registrado em 1989. Nos últimos anos, o vírus havia sido detectado somente no Afeganistão e no Paquistão. No entanto, neste ano foram registrados casos de paralisia infantil em Malawi, um nos Estados Unidos, um em Israel e seis em Moçambique.
A meta de vacinar 95% das crianças na faixa etária mais afetada pela poliomielite não é atingida desde 2017, segundo dados do Ministério da Saúde. Especialistas alertam a possibilidade de a doença voltar a ser detectada no Brasil devido à queda na cobertura vacinal.
“Existe chance desse vírus voltar a circular a partir do momento em que há uma queda no percentual de crianças vacinadas. Esse é o grande risco”, afirma o gerente médico e infectologista do Hospital Infantil Sabará, Dr. Francisco de Oliveira Junior.
O infectologista ainda afirma que a única forma de combater a poliomielite é através da vacinação. “Esse vírus não tem um tratamento específico. Depois que a criança adoece, não tem nenhum tipo de medicação para tratar o vírus. O segredo da paralisia infantil é a prevenção”.
Para o médico, a queda da cobertura vacinal não tem uma única causa. “Um dos principais fatores é a diminuição da percepção de risco. Como é uma doença que aconteceu pela última vez no Brasil há 30 anos, as pessoas acham que não existe mais. Em segundo lugar tem o movimento anti-vacina, que cresceu muito nos últimos anos. Esse movimento ganhou força na pandemia, provocando medo, dúvidas, e contaminou a tendência da população de vacinar as crianças.”
Terceiro setor no combate à poliomielite
A Fundação José Luiz Edygio Setúbal, organização da sociedade civil mantenedora do Hospital Infantil Sabará e do Instituto PENSI, atua em prol da saúde infantil e direitos das crianças e adolescentes no Brasil. Recentemente, a FJLES passou a apoiar um projeto do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) que promove a Busca Ativa Vacinal em municípios, em buscar de aumentar a cobertura vacinal no país.
Um estudo realizado pelo UNICEF aponta como motivos para a baixa cobertura vacinal a baixa percepção sobre o risco da doença, o acesso limitado aos serviços de saúde, a falta de informação sobre a importância da vacinação e a interrupção da vacinação de rotina durante a pandemia de Covid-19.
A partir da Busca Ativa Vacinal, o UNICEF irá identificar e mapear crianças menores de 5 anos não vacinadas, entender as razões para o atraso da imunização e estabelecer estratégias com os serviços de saúde para garantir a cobertura vacinal deste público. Além disso, o projeto irá integrar outros setores, como educação infantil e assistência social, para monitorar o processo e prevenir que outras crianças sofram atrasos ou não se vacinem. A iniciativa está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
Embora a Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite tenha se encerrado, o imunizante continua disponível em todos os postos de saúde do país.