Construindo Pontes: ONGs no combate à desigualdade racial em 2023
Em um país em que 56% do total da população se autodeclaram pretas e parda, como entender os elevados níveis de desigualdade racial? Conheça algumas das muitas ONGs e projetos do terceiro setor que atuam no combate ao racismo
Por Redação
No Brasil, do total populacional, 56% dos brasileiros e brasileiras se autodeclaram pretas e pardas, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD 2022). Um estudo realizado pela Rede de Observatórios de Segurança mostrou que todos os mortos pela polícia no Recife em 2022 eram pessoas negras, assim como observado em 2021. Em Pernambuco, a proporção de negros entre as vítimas de operações policiais foi de 89,66%.
Uma pesquisa da plataforma do Centro de Estudos das Desigualdades Raciais no Brasil (CEDRA) mostrou que, em 2020, entre as gestantes negras, 31,1% realizaram o pré-natal de maneira inadequada, intermediária ou não fizeram o exame. Entre as gestantes brancas essa proporção era 18,1%.
Dados da mesma plataforma relacionados a empreendedorismo e salário nos mostram que, no país, mulheres negras fazem parte de 47% do setor de empreendimentos, mas 44% recebem menos que homens brancos; isso dá luz às recorrentes movimentações em que a desigualdade de gênero, social e racial se encontram.
A desigualdade racial possui diversas perspectivas, pairando nas relações entre os indivíduos, por questões de classe e culturais, por meio de apropriações e censuras.
Conheça algumas das muitas organizações do terceiro setor e suas frentes de combate à desigualdade racial:
Educação
Projeto SETA
O Projeto SETA é uma iniciativa conjunta de várias organizações e movimentos sociais e organizações negras, quilombolas, indígenas e feministas ligadas ao tema da educação como a ActionAid, a Ação Educativa, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), o Geledés – Instituto da Mulher Negra e a Uneafro Brasil. A missão da organização é promover e implementar uma educação antirracista na escolas brasileiras, aprimorando o diálogo nacional do racismo na educação, promovendo pesquisas sobre o assunto, formando profissionais e disponibilizando materiais educacionais para a educação étnico-racial.
Instituto Peregum
O Instituto de Referência Negra Peregum é uma organização sem fins lucrativos, criado em 2019, por militantes da educação popular; sua missão é fortalecer a população negra e periférica, com e a partir dos movimentos negros, trazendo para a centralidade dos debates e das práticas sociais demandas específicas e urgentes, de maneira a transformar as políticas públicas e as pessoas no sentido de uma sociedade antirracista.
Emprego e ambiente de trabalho
ID_BR – Instituto Identidades do Brasil
O Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) é uma organização sem fins lucrativos comprometida com a promoção de direitos humanos, com foco na luta pela igualdade racial, dentro das empresas brasileiras. A partir de ações propositivas em prol do combate da desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho e de educação para jovens afrodescendentes. Através deste engajamento, as empresas são certificadas com o Selo Sim a Igualdade Racial.
TODXS
A TODXS, uma organização sem fins lucrativos dedicada à promoção da cidadania e do protagonismo de pessoas LGBTI+, lançou o Guia de Boas Práticas Antirracistas para Empresas, um recurso concebido para auxiliar as empresas na criação de ambientes de trabalho mais inclusivos para a população preta e parda no Brasil. O guia é parte da campanha Enegrecer o Mercado de Trabalho, criada pela TODXS para promover a inclusão e fornecer informações de desenvolvimento e estratégias de inclusão.
A cartilha pode ser acessada aqui.
Empoderamento, autoconhecimento e práticas culturais
Geledés
Sabendo que o empoderamento provém também do acesso à informações e conhecimentos sobre sua cultura e história, o Geledés é uma organização da sociedade civil que se posiciona em defesa de mulheres e negros por entender que esses dois segmentos sociais padecem de desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais em função do racismo e do sexismo vigente na sociedade brasileira. Nas áreas prioritárias da ação política e social, a ONG desenvolve projetos próprios ou em parceria com outras organizações de defesa dos direitos de cidadania e direitos humanos.
Aparelha Luzia
Compreendido como um quilombo urbano em São Paulo, a Aparelha Luzia é um centro cultural, fundado em abril de 2016, é um centro cultural e político. O nome incomum do local remete a um passado mais distante. “Aparelhos” eram apartamentos ou casas onde ativistas que resistiam à Ditadura Militar se encontravam clandestinamente, faziam reuniões ou se refugiavam. Luzia, por sua vez, é o nome do fóssil mais antigo já encontrado na América, datado em cerca de 13.000 anos. Descoberta em Minas Gerais, ela tinha traços e fenótipos negros muito antes do início do tráfico de escravos no século XVI. A programação conta com palestras, bailes e shows, confira a programação na página do instagram.
Alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 de metas globais da ONU, as organizações estão contribuindo para educação de qualidade, emprego decente e crescimento econômico e redução de desigualdades (ODS 4, 8 e 10).