Documentário apresenta relatos de mulheres que varrem ruas
Documentário da Faculdade de Saúde Pública da USP mostra através dos relatos das varredeiras os perigos, obstáculos e preconceitos que cercam a profissão dessas mulheres
Por: Mariana Lima
As mulheres que trabalham varrendo as ruas, conhecidas como varredeiras ou margaridas, precisam lidar com a falta de conscientização de empresários e da população, o descarte inadequado de resíduos, a falta de segurança, o preconceito e a dificuldade no acesso aos banheiros.
Identificar os principais problemas enfrentados por varredeiras funcionárias de uma empresa no interior do estado de São Paulo foi o objetivo da psicóloga e psicanalista Bianca Gafanhão Bobadilha em sua dissertação de mestrado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
A proposta do trabalho era investigar a capacidade dessas funcionárias em propor soluções para melhorar a rotina de trabalho, tornando-as protagonistas dessas mudanças.
Entre as propostas apresentadas por elas estava a de ir conversar pessoalmente com donos ou responsáveis de bares, lanchonetes e restaurantes para conscientizá-los da importância de embalar corretamente os resíduos e descartá-los de forma segura.
Como parte final do trabalho, a mestranda produziu o documentário ‘Varredeiras’, com a participação ativa dessas profissionais no roteiro e finalização da produção.
Foram utilizadas como base para o documentário entrevistas em grupo realizadas entre março de 2017 e julho de 2018. Os encontros com as varredeiras eram semanais e ocorriam durante o horário de descanso delas.
As análises de conteúdo e de discurso das mais de 12 de gravações mostram que os desafios diários das varredeiras estão relacionados ao trabalho na rua, à forte hierarquia na empresa, à falta de conscientização da população sobre a atividade de varrição e ao descarte incorreto de resíduos.
Vale pontuar que as participantes tinham idade variada, baixa escolaridade (com presença de analfabetas no grupo) e, por vezes, eram as principais responsáveis pelo sustento da família.
A dissertação de mestrado de Bianca integra o projeto temático ‘Acidente de trabalho: da análise sociotécnica à construção social de mudanças’, subsidiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
No projeto em questão, os pesquisadores trabalharam com uma metodologia denominada “Laboratório de Mudanças”, que auxilia os sujeitos a resolverem as adversidades por meio de um conjunto de ações que transformam o sistema de atividade.
O conteúdo encontrado foi desde a falta de segurança para trabalhar em locais periféricos e dificuldade de acesso a banheiros até a preocupação com o próprio deslocamento em locais com maior circulação de carros.
Temas como a exposição a altas temperaturas e falta de conscientização da população também fizeram-se presentes nas sessões.
Assista ao documentário:
Fonte: Jornal da USP