Retrocesso: índices da educação voltaram ao patamar de 2013
Os dados apontam retrocesso de quase dez anos na qualidade de ensino do país; para solucionar o problema, o Todos Pela Educação criou uma agenda com propostas educacionais direcionadas aos governantes
Por Ana Clara Godoi
A educação infantil do Brasil teve retrocesso em todas as etapas, segundo dados dos anos de 2019 a 2021, divulgados no dia 16 de setembro pelo Ministério da Educação. Os índices voltaram ao patamar de 2013, como reflexo da pandemia de Covid-19.
Os indicadores são fruto de uma prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aplicada em 2021. Ela identificou que quase 40% dos alunos chegam ao quinto ano do ensino fundamental sem saber identificar figuras geométricas. Em uma escala de 0 a 8, a maior parcela dos estudantes do 2º ano do fundamental está concentrada no nível 5 quando se trata de conhecimentos em língua portuguesa. Já com matemática, os alunos se encontram no nível 4.
Para Ivan Gontijo, coordenador de políticas educacionais do Todos Pela Educação, além da queda nos indicadores de aprendizagem, a pandemia trouxe grandes impactos para a educação brasileira, como o aumento da desigualdade educacional.
“A gente percebeu uma queda na etapa de alfabetização e essa queda não foi igual para todo mundo. Os estudantes que tiveram menos acesso ao ensino remoto, como os estudantes das periferias, ficaram mais para trás”.
Outro retrocesso registrado na educação brasileira foi a evasão escolar. De acordo com um levantamento feito pela organização com dados do IBGE, durante a pandemia houve um aumento de 171,1% na evasão em relação a 2019.
“A evasão tem dois tipos de consequências. Para os estudantes, visto que quem está fora da escola tem dificuldade para se inserir no mercado de trabalho e está mais exposto a fatores de risco. E também é um problema um problema público. O país em que os alunos não aprendem vai ser um país com mais dificuldade para se desenvolver, mais desigual, e que menos respeita a democracia”, explica.
Ivan ainda destaca que os desafios já existiam antes da pandemia, mas foram agravados pelo período. Segundo ele, existem dois tipos de medidas que podem fazer o país recuperar os bons índices educacionais.
“Precisamos trazer de volta os estudantes, fazer programas de reforço e recuperação, garantir que eles passem mais tempo na escola, que tenham acolhimento e suporte a saúde mental. Essas são as medidas emergenciais. Como medidas estruturais, a longo prazo, temos o aumento de recursos e melhora na gestão de recursos educacionais, melhora na formação dos professores e aumento do número de escolas em período integral”.
Para combater o retrocesso, o Todos Pela Educação criou o Educação Já, uma agenda que informa os governos, em âmbito nacional e estadual, sobre as medidas estruturais que, se aplicadas, podem mudar o patamar da educação brasileira.
“Nosso trabalho é de formação de agenda, construção e recomendações de propostas. Nesse período eleitoral nos reunimos com as principais candidaturas à presidência para levar essa agenda e mostrar quais são as medidas prioritárias”.
O Todos Pela Educação é uma organização da sociedade civil que atua em prol de qualidade na educação básica no Brasil. A entidade tem cinco principais metas para a educação brasileira: investimento em educação ampliado e bem gerido; toda criança e jovem de 4 a 17 anos estar na escola; toda criança ser plenamente alfabetizada até os 8 anos; todo aluno ter aprendizado adequado ao seu ano; todo jovem ter o ensino médio concluído até os 19 anos.