Quem as protege? Em 2 anos, 28 crianças morreram no RJ por bala perdida
Na semana passada (20/06), duas tragédias abalaram o país. Balas perdidas mataram na cidade do Rio de Janeiro dois adolescentes, ambos com apenas 14 anos. Marcos Vinicius ia para o colégio quando foi baleado durante uma operação da polícia no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. E Guilherme Henrique Pereira foi atingido após um carro disparar contra pessoas que estavam na calçada da avenida Falcão da Frota, próximo à comunidade da Vila Vintém, na zona oeste da cidade.
De acordo com um levantamento da ONG Rio de Paz, 50 crianças com idades entre zero e 14 anos foram vítimas fatais em decorrência de balas perdidas no Rio desde 2007. Só nos últimos dois anos, foram 28 casos.
A ONG Redes da Maré contabilizou mais de 100 marcas de tiros no chão próximo ao local onde Marcos Vinicius foi morto. A tragédia poderia ser maior, porque perto do local existem duas escolas.
Somente em 2018, e ainda estamos na metade do ano, oito crianças foram mortas por balas perdidas no Rio. A média é de uma morte do tipo a cada 21 dias. Entre as crianças mortas este ano estão Emily Sofia, que tinha 3 anos de idade quando morreu no dia 6 de fevereiro após ser baleada, em uma tentativa de assalto, na rua Cardoso de Castro, em Anchieta, na Zona Norte. Benjamin, de apenas 2 anos, foi atingido na cabeça por uma bala perdida no Complexo do Alemão, no dia 16 de março. Deu entrada na UPA da comunidade, mas não resistiu aos ferimentos. Sua mãe está entre os quatro feridos no tiroteio, atingida na barriga e no braço. Segundo a avó do menino, eles estavam indo buscar um vestido para uma festa.
E Brenda Valentina Alves Oliveira Aleixo, também com apenas 2 anos de idade, foi morta em Conceição de Jacareí, distrito de Mangaratiba, na Região da Costa Verde, em 31 de março. Os pais passavam de carro perto do Morro do Catatau quando traficantes atiraram no veículo. Brenda foi atingida na cabeça.
Até quem ainda não nasceu é vítima da violência. Como o bebê Arthur, que foi atingido ainda na barriga da sua mãe por uma bala perdida no ano passado, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Arthur lutou um mês por sua vida, mas não resistiu aos ferimentos.
Mesmo passando por uma intervenção federal, o estado do Rio de Janeiro lidera o corte no orçamento com segurança pública. Em apenas três anos, o estado cortou R$ 888 milhões, com valores já atualizados pela inflação. Os números foram consolidados pelo jornal Folha a partir do Siconfi (Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público).