Estudantes que moram na USP passam por insegurança alimentar
São 350 estudantes que não têm para onde ir durante a pandemia e estão passando fome no Conjunto Residencial da USP
Por: Isabela Alves
A Universidade de São Paulo (USP) parou de realizar as suas atividades presenciais desde março deste ano por conta da pandemia de Covid-19.
No entanto, um grupo de alunos não tiveram outra opção e permaneceram na cidade universidade. São eles os moradores do Conjunto Residencial da USP, o Crusp.
São 350 pessoas, entre eles estão estudantes de graduação e pós-graduação, às vezes com filhos, que estão dependendo dos serviços da Superintendência de Assistência Social da USP para tudo, incluindo a alimentação.
Parte destes alunos que não tem para onde ir durante a pandemia, está passando fome e sofrendo com a insegurança alimentar.
A revelação foi feita por uma pesquisa de Tânia Araujo, doutora em Saúde Pública e ex-moradora do Conjunto Residencial da USP, e Daniel Vasconcelos, doutorando em Geografia na Universidade e ainda morador do Crusp, e divulgada com exclusividade pelo The Intercept Brasil.
Metade dos alunos fazem apenas duas refeições diárias, enquanto 25% passam um dia inteiro com apenas uma refeição ou sem comer nada. Ainda 85% afirmaram que estão em situação de insegurança alimentar.
Por conta da pandemia, a alimentação na USP mudou. Os restaurantes universitários, em que uma refeição custa no máximo R$ 2, foram fechados para cumprir as demandas de isolamento social. Com isso, a Universidade passou a distribuir marmitas para os moradores do Crusp.
Os apartamentos dos estudantes não possuem cozinhas e por isso foram implantadas cozinhas comunitárias no local para que os estudantes pudessem preparar as próprias refeições coletivamente.
No entanto, a falta de manutenção fez com que a cozinha comunitária não pudesse mais ser utilizada. Os espaços sofrem com goteiras, infiltrações e fogões que raramente funcionam. Desde 2019, usá-los não é uma opção para quem vive no Crusp.
Em resposta à reportagem, a reitoria da USP preferiu ignorar o problema apontado pela pesquisa e a má qualidade de vida que vem proporcionando aos seus alunos.
A pesquisa foi respondida por 84 pessoas, o equivalente a 24% dos alunos que atravessam a pandemia no Crusp. Mais da metade se identificou como mulher (56%), preto ou pardo (52%) e tem entre 19 e 29 anos (61%).
Fonte: The Intercept