Festival ABCR discute profissionalização na captação de recursos
Evento abordou temas como advocacy, ética e comunicação, e discutiu desafios para captar recursos
Esta semana, ocorreu a 11ª edição do Festival ABCR, o maior evento da América Latina sobre captação de recursos para organizações do Terceiro Setor. E o tema deste ano foi ‘O futuro da captação de recursos no Brasil do futuro’.
Entre as questões discutidas estão a importância do advocacy para o Terceiro Setor, dilemas éticos sobre os quais qualquer pessoa que capte recursos para uma organização deveria refletir e o cenário da comunicação nas organizações da sociedade civil (OSCs) brasileiras, sempre com foco na profissionalização do setor.
“O Terceiro Setor precisa se profissionalizar, para mostrar para o governo, as empresas e a sociedade o quanto ele é sério, mostrar que ele não faz caridade, e sim visa à transformação social”, destacou João Paulo Vergueiro, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), durante a abertura do festival.
Marco Bancário da Doação
O evento também contou com a assinatura simbólica do projeto de lei do Marco Bancário da Doação. A proposta foi construída por um grupo de OSCs liderado pela ABCR e foi assinada pela senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).
Antes de assinar o projeto, a senadora falou da importância de a sociedade civil e o Poder Público dialogarem e trabalharem juntos por uma sociedade melhor para todos.
O marco consiste em um projeto de lei com o objetivo de fazer com que as doações sejam formalmente reconhecidas, no sistema financeiro nacional, como uma modalidade de transação financeira distinta do pagamento.
De acordo com João Paulo Vergueiro, hoje, os bancos têm uma série de regras que dificultam o trabalho das organizações da sociedade civil. “Muitas organizações não conseguem nem abrir uma conta corrente ou ter um cartão de crédito”, exemplificou. Além disso, mudanças recentes nas regras envolvendo os boletos não condizem com a realidade de muitas instituições que têm justamente nos boletos uma ferramenta fundamental de captação de recursos.
O projeto deve ser agora colocado em tramitação no Senado.
Advocacy
Ações como a que levou à criação do projeto de lei do Marco Bancário da Doação ainda são muito recentes no Brasil. Para Ana Claudia Andreotti, do GIFE, a explicação para isso é que “o Brasil tem um histórico de períodos curtos de democracia, e o advocacy pressupõe uma democracia”.
Mas, afinal, o que é o advocacy? Tiago Farina Matos, do Instituto Oncoguia, define o advocacy como um processo dividido em três etapas: identificar o que gera determinados problemas que afetam uma causa, propor soluções e, por fim, influenciar tomadores de decisões (vinculados às esferas municipal, estadual ou federal) para que adotem as soluções propostas.
Ana Claudia Andreotti resume o advocacy como incidência política. É quando uma organização ou um conjunto de organizações pressiona os poderes legislativo e executivo para que alterem leis ou criem políticas públicas em benefício de uma causa específica ou de temas transversais (que afetem todas as OSCs, independentemente de suas causas, como no caso do Marco Bancário da Doação).
Além do curto histórico democrático do Brasil, outro desafio para o advocacy é reunir as organizações em torno de um tema, como destacou Marcos Spalding, do Santuário Nacional: “falta uma cultura de pessoas e organizações com as mesmas necessidades se unirem e lutarem juntas por melhorias que beneficiem o coletivo”.
Ética
Outra questão discutida ao longo do Festival ABCR 2019 foi a importância da ética na captação de recursos.
Por mais que as intenções dos captadores sejam boas, de acordo com Roberto Soto Acosta, da IMAGINE Consultores, de Porto Rico, é fundamental conhecer o código de ética da profissão e refletir sobre questões éticas o tempo todo, mesmo nas atividades mais simples do dia a dia.
Para exemplificar, ele falou de dilemas éticos que podem surgir no cotidiano de captadores de recursos.
Um desses dilemas diz respeito a aceitar ou não doações, principalmente grandes, de pessoas ou organizações com atividades que vão contra o que a sua instituição defende.
Outro dilema é a aplicação das doações exatamente onde os doadores desejam. Quando a doação é pensada para um projeto ou programa específico, você não pode realocar parte desse valor para um outro projeto sem antes conversar com o doador, mesmo que você tenha dinheiro excedente no primeiro projeto e falte dinheiro no segundo.
De acordo com o especialista, um trabalho ético é fundamental para garantir que a sua organização seja confiável e continue captando recursos, e isso só é possível com um trabalho constante de reflexão e respeito aos códigos de ética da profissão e da sua organização.
O Festival ABCR
A edição deste ano ocorreu entre os dias 9 e 11 de junho, em São Paulo, e teve cerca de 800 participantes.
Ao todo, foram mais de 80 palestras, divididas em diversos eixos temáticos, como ‘Comunicação e Engajamento’, ‘Gestão e Liderança’, ‘Cultura de Doação’ e ‘Geração de Renda e Negócios de Impacto’.
O Observatório do Terceiro Setor foi um dos apoiadores oficiais do evento.
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