Há 67 anos, fake news provocava a morte de um garoto negro
No verão de 1955, o jovem Emmett Louis Till foi passar as férias com seu tio, na pacata cidade de Money, Mississipi. Mesmo com o alerta da mãe Mamie Till Bradley, de que Chicago (cidade onde eles moravam) e Mississippi eram dois mundos diferentes, ele fez a viagem. O adolescente negro de apenas 14 anos não esperava que perderia a vida brutalmente por uma mentira.
As estatísticas sobre linchamentos nos EUA começaram a ser coletadas em 1882. Desde então, mais de 500 negros foram mortos dessa maneira somente no Mississippi.
As tensões raciais aumentaram após a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de acabar com a segregação na educação pública. Muitos brancos detestaram essa decisão e o clima nas cidades do sul estava cada vez mais pesado.
Em 24 de agosto, ele e o primo Curtis Jones saíram da igreja onde o tio-avô, Mose Wright, estava pregando e se juntaram a alguns garotos locais para irem até mercado Bryant comprar doces.
A mercearia era do casal Roy Bryant, de 24 anos e de Carolyn Bryant, 21 anos. Carolyn, que estava sozinha na loja naquele dia, afirmou que Till havia assobiado para ela.
Carolyn Bryant contou para as pessoas da cidade sobre o acontecido na loja e os boatos se espalharam rapidamente. Tudo piorou quando isso chegou aos ouvidos de Roy Bryant, um homem violento e impaciente.
O assassinato ocorreu no dia 28 de agosto, quando Bryant e seu irmão, JW Milam, pegaram o carro, ao lado de sua esposa Carolyn, com o intuito de ensinar uma lição ao menino. Quando Carolyn identificou Emmett, os homens o colocaram na parte traseira de uma caminhonete e o levaram para uma cidade vizinha, onde mataram o garoto friamente.
Após ser espancado, arrancaram-lhe um olho e em seguida atiraram. Em seguida, jogaram o corpo do garoto no rio em outra cidade ao norte de Money. Emmett foi dado como desaparecido, até que, três dias após o sequestro, seu corpo foi encontrado extremamente desfigurado no rio Tallahatchie.
Os irmãos Bryant alegaram que aquele não era o corpo de Emmett e que as acusações eram equivocadas, no entanto, o garoto usava um anel que tinha ganhado de sua mãe um dia antes da viagem. Assim seu corpo foi identificado. Roy e JW, acusados pelo desaparecimento do menino, foram presos no início de setembro. Mas a justiça não duraria muito tempo.
Em 23 de setembro, numa sessão de apenas uma hora, o júri absolveu os acusados. Essa decisão gerou revolta, deixando diversos cidadãos negros indignados, provocando o aumento significativo do Movimento pelos Direitos Civis, principalmente em jovens.
60 anos depois do crime brutal, Carolyn Bryant apareceu na mídia dizendo que a história que ela tinha contado em 1955, era uma mentira. No livro O Sangue de Emmett Till, o autor Timothy Tyson, um estudioso da pesquisa da Universidade Duke, revela que em 2007, Carolyn, aos 72 anos, admitiu que ela havia inventado seu testemunho, e que Till nunca se insinuou para ela. Porém, convenientemente afirmou que não se lembrava de mais detalhes daquela tarde de agosto. A história de Till se tornou símbolo de resistência e luta para o movimento americano.
Fonte: Aventuras na História/ UOL