Indigenista desaparecido foi exonerado pela Funai após atuar contra garimpeiros ilegais
Bruno Araújo Pereira, indigenista desaparecido na Amazônia desde o dia 5, foi exonerado pela Funai após coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros ilegais da terra indígena Yanomami, em Roraima
Bruno Araújo Pereira, o indigenista desaparecido na Amazônia desde o último dia 05 de junho (domingo), junto do jornalista inglês Dom Phillips, era o responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai até outubro de 2019. Após coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros ilegais da terra indígena Yanomami, em Roraima, Pereira foi exonerado do cargo sem qualquer tipo de justificativa interna.
Para o indigenista que atuou por 23 anos na Funai com povos isolados, Antenor Vaz, o afastamento do cargo do colega se deu em um contexto onde a fundação passou a ter uma presidência totalmente anti-indígena e que perseguia qualquer pessoa que tivesse uma posição que fizesse se cumprir as leis indigenistas, consequência do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O caso aconteceu depois que o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier Silva assumiu a presidência da fundação, apoiado pela bancada ruralista. A exoneração foi assinada pelo então secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Luiz Pontel. Para ocupar o lugar de Pereira, o missionário evangélico Ricardo Lopes Dias foi nomeado e ficou apenas nove meses na posição.
Após a exoneração, Pereira pediu licença do órgão e decidiu fiscalizar a região, atacada por garimpeiros, madeireiros e pescadores, ao lado dos indígenas, com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Como mostrado no jornal O Globo nesta quinta-feira (09), na ONG, o servidor público ensinava os ativistas do vale a manusear mapas e a operar drones, o que permitia que eles próprios fiscalizassem a área e documentassem irregularidades às autoridades de segurança.
“O Bruno conseguiu passar ainda um certo tempo, mas culminou quando ele coordenou uma operação de desintrusão na Terra Indígena Yanomami. No retorno dele, ele foi quase que imediatamente exonerado, perdeu a função. Poucos meses depois, ele se viu completamente escanteado, não tendo mais nenhuma participação nos trabalhos. Ele foi isolado”, comenta Antenor Vaz.
Vaz participou da criação da primeira terra indígena reconhecida pelo governo brasileiro, chamada de Terra Indígena Massaco. Segundo ele, Pereira trabalhava duro, coordenando 11 frentes de proteção etnoambiental espalhadas pelo Brasil, e não tinha recursos humanos para fazer o trabalho de fiscalização.
Fonte: O Globo