Instituto ReUrbi de Inclusão Sociodigital trabalha para inserir jovens no mundo online
Desigualdade digital no Brasil afasta crianças e jovens da educação. Agora no terceiro setor, Instituto ReUrbi de Inclusão Sociodigital tem como objetivo mudar essa realidade ao doar equipamentos seminovos para OSCs
Por: Juliana Lima
Segundo a pesquisa TIC Domicílios, realizada em 2020, 26 milhões de pessoas nunca acessaram a internet no Brasil, o que representa 14% da população do país. Em 2019, antes da pandemia, o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) apontou que 40 milhões de brasileiros não tinham acesso à internet.
Os motivos são diversos: desde a falta de condições financeiras para comprar equipamentos eletrônicos e pagar por serviços de internet até a falta de interesse. Segundo a TIC Domicílios, para 63% das pessoas que não possuem internet, a razão é falta de interesse, habilidade ou necessidade.
Para especialistas, os dados demonstram as profundas desigualdades que marcam o Brasil, chamando esse aspecto de “desigualdade digital”. Com a pandemia, quando muitas atividades, inclusive escolas e faculdades, tiveram de se adaptar ao mundo online, as diferenças ficaram ainda mais claras.
Segundo uma pesquisa encomendada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) ao Instituto Locomotiva, o aparelho celular é o principal meio que as populações das classes C, D e E possuem para acessar a internet. A pesquisa revela ainda que 35% dessas pessoas já deixaram de acompanhar aulas ou cursos seus ou de seus filhos por causa da falta de internet.
Recentemente, no dia 7 de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) criou, por meio de uma Medida Provisória, um programa que irá ofertar chips, pacotes de dados e dispositivos de acesso à internet a alunos de escolas públicas que façam parte de famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).
No entanto, ainda não há previsão de quando os benefícios começarão a ser distribuídos. Em março de 2021, o presidente havia vetado um projeto de lei aprovado no Congresso que também previa internet gratuita para estudantes – e professores – do ensino público.
Para especialistas, movimentos sociais e estudantis, houve demora do governo brasileiro em garantir a inclusão digital para estudantes do ensino público. Segundo a pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo IBGE no dia 3 de dezembro, a presença simultânea de internet e computador em casa foi constatada em 90,5% dos lares de estudantes de 15 a 17 anos de escolas privadas, enquanto para os da rede pública o número fica em 48,6%.
O trabalho da sociedade civil
É pensando nesse contexto de desigualdades que muitas empresas e organizações da sociedade civil (OSCs) decidiram atuar na promoção do acesso à internet e a aparelhos eletrônicos. Um exemplo é a ReUrbi, empresa recicladora que atua na área desde 2012.
Utilizando a logística reversa, a empresa recebe descartes de equipamentos eletrônicos de TI e Telecomunicações e os transforma em equipamentos da Remakker, uma linha de computadores seminovos, que são doados ou vendidos com desconto para projetos sociais e organizações que atuam em prol da inclusão digital.
Agora, com o objetivo de ampliar ainda mais seu impacto, a empresa lançou o Instituto ReUrbi de Inclusão Sociodigital (IRIS), uma associação civil de direito privado sem fins lucrativos com a missão de democratizar o acesso digital e promover a inclusão digital dos jovens no Brasil.
“A ReUrbi sempre teve um viés social em seu DNA. Ainda nos seus primeiros meses de funcionamento, já realizava sua primeira ação de atendimento a projetos sociais. Mas, por ser uma empresa comercial da iniciativa privada, naturalmente também tem que buscar resultados econômicos. Com o Instituto, não precisamos ter essa preocupação e podemos dar um suporte maior a toda essa ação social”, explica Ronaldo Stabile, diretor geral da ReUrbi e presidente do IRIS.
Com isso, o Instituto passa a assumir os mais de 100 projetos que eram apoiados pela empresa, que já cedeu mais de 1.700 equipamentos como desktops, monitores e notebooks a organizações de todo o país. Segundo Ronaldo Stabile, a estimativa é que o Instituto feche 2021 apoiando 160 organizações e amplie seu impacto, que hoje atinge cerca de 63 mil pessoas, para 117 mil beneficiados.
Diferença na ponta
Uma das organizações que recebem apoio do Instituto ReUrbi de Inclusão Sociodigital é a ABRAC (Associação Beneficente de Renovação e Assistência à Criança), que possui quatro unidades em Mogi das Cruzes (SP) e trabalha desde 1998 com acolhimento de crianças e adolescentes em situação de risco.
A organização foi indicada por duas empresas que fizeram o descarte de seus aparelhos eletrônicos com a ReUrbi: a MOVIDA, que trabalha com locação de veículos, e a JSL, de transporte e fretamento. Ambas possuem sede em Mogi das Cruzes e, além de receberem um certificado de descarte correto segundo as legislações ambientais, apoiaram os jovens da cidade.
A ReUrbi realizou, então, o desmonte das peças para criar novos equipamentos e destinou dois computadores para cada unidade da ABRAC. As doações são feitas em comodato, ou seja, um empréstimo gratuito, por tempo indeterminado e o Instituto se compromete ainda a oferecer assistência técnica, pedindo apenas que os equipamentos sejam devolvidos quando não forem mais adequados para uso.
Segundo Tailise Mota, coordenadora social da unidade ABRAC Venner, os computadores hoje são fundamentais no cotidiano das crianças e adolescentes, já que são ferramentas para que eles possam assistir a aulas online, tanto da escola quanto de cursos extracurriculares, façam pesquisas e deveres de estudo e possam também desfrutar do lazer proporcionado pelas redes sociais e vídeos online. Para a coordenadora, o trabalho do Instituto ReUrbi de Inclusão Sociodigital foi importante porque “ampliou o acesso das crianças e adolescentes acolhidos ao mundo digital”.
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Este conteúdo foi produzido por meio de uma parceria entre o Observatório do Terceiro Setor e a ReUrbi – Recicladora Urbana.
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