Sistema B Brasil faz 8 anos: conheça seu impacto socioambiental
Sistema B Brasil certifica e conecta negócios que unem lucro e impacto socioambiental, as chamadas empresas B. Com expansão do movimento, empresas de diferentes segmentos vêm promovendo a mudança do modelo econômico para uma economia regenerativa e inclusiva
Por Juliana Lima
Temas sociais e ambientais estão cada vez mais presentes na sociedade atual, sendo cobrados como responsabilidades de todos os setores – poder público, empresas e organizações sem fins lucrativos. Dessa forma, cada vez mais empresas fazem um movimento de unir lucro e propósito, gerando um impacto socioambiental positivo ao longo de toda a sua cadeia. E esse movimento já é organizado: o Sistema B concentra essas empresas e já celebra oito anos de existência no Brasil.
O Sistema B Brasil é um braço do B LAB, entidade sem fins lucrativos que surgiu em 2006 nos Estados Unidos. O modelo de negócio chegou em 2013 em solo brasileiro, trazido pelo empreendedor social Marcel Fukayama. Atualmente, são 233 empresas B no país, sendo 206 já certificadas e outras 27 pendentes.
Para se tornar uma empresa B certificada, é preciso passar por um processo de Avaliação de Impacto B (BIA), uma ferramenta online e gratuita disponibilizada no site do Sistema B que permite analisar e acompanhar a evolução da performance da empresa. Ao todo, são 200 questões que avaliam cinco pilares: governança, comunidade, meio ambiente, trabalhadores e clientes.
Se a empresa obtiver um resultado final maior ou igual a 80 pontos, ela pode se submeter à avaliação do Sistema B para ganhar a certificação. Para isso, ela precisa comprovar que possui práticas, políticas e processos consolidados e, por isso, é necessário ter ao menos 12 meses de atuação, já que é necessário avaliar a atuação da empresa em períodos anteriores.
Depois da revisão das respostas e da documentação fornecida, a empresa recebe a sua pontuação e certificação, se for o caso. A certificação final corresponde à área mais forte da empresa dentre as cinco avaliadas. Além disso, em alguns casos, a empresa pode ainda receber o Best For The World, reconhecimento voltado para as empresas que estão entre as 5% com as melhores notas na BIA.
As empresas que não conseguem a pontuação necessária podem passar por um “Período de Melhorias”, em que elas podem trabalhar a implementação de práticas e processos que as ajudem a atingir a pontuação mínima para a certificação. Já os negócios com menos de 12 meses de existência podem receber um selo de “Empresa B Pendente”, criado justamente para negócios com menos de um ano de operação e que já desejam entrar no mercado com esse diferencial.
De acordo com Francine Lemos, diretora executiva do Sistema B Brasil, grande parte do movimento é formado por pequenas e médias empresas, que já nascem alinhadas a uma nova proposta de economia, mais circular e com impacto positivo. No entanto, nos últimos anos, muitas empresas maiores e mais tradicionais também têm demonstrado interesse em se juntar ao movimento.
“A certificação como empresa B não é um fim, mas uma direção. Nosso objetivo é muito maior do que certificar empresas. Trabalhamos para a criação de um novo modelo econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta. Para que isso aconteça, é necessário ter empresas, sociedade e poder público buscando os mesmos objetivos. Temos o apoio de muitos, mas sabemos que para que nossas pautas avancem, é preciso trabalhar para mudar as regras do jogo e criar um ecossistema que contribua para fomentar negócios com o perfil de uma Empresa B”, diz Francine Lemos, diretora do Sistema B.
Impacto socioambiental no DNA
Antes mesmo do Sistema B chegar ao Brasil, a ReUrbi – Recicladora Urbana já atuava em economia circular e com o princípio de aliar o lucro à geração de impacto socioambiental positivo. Desde 2012 atuando no segmento de logística reversa de equipamentos de TI e Telecom de empresas e organizações, a empresa coleta equipamentos descartados que passam por processo de avaliação e certificação de descarte em conformidade com a Legislação Ambiental. Depois, os equipamentos são reinseridos na economia como matérias-primas, peças e partes de computadores seminovos que atendem a demanda de organizações do terceiro setor, empresas e pessoas físicas.
A ReUrbi aplica ainda 10% do resultado de suas operações em projetos de inclusão sociodigital, fornecendo, em comodato, equipamentos de TI seminovos de sua linha Remakker para projetos de inclusão social de organizações do terceiro setor indicadas ou não por parceiros e clientes que descartaram seus equipamentos.
Desde 2013, a ReUrbi é uma empresa B certificada pelo Sistema B Brasil e acredita na interdependência entre as empresas B, buscando escalar impacto socioambiental dentro do Sistema B, trabalhando em rede para aumentar o impacto na sociedade e no meio ambiente.
Nesses oito anos de certificação, a ReUrbi coletou equipamentos eletrônicos em desuso de mais de 30 outras empresas B, atingindo cerca de 127 toneladas de materiais, evitando a emissão de 241 toneladas de gases de efeito estufa e 1.500kg de metais tóxicos que impactariam o meio ambiente.
Com os 10% da valorização e a remuneração dos lotes descartados de empresas B, foram viabilizados 37 projetos de inclusão sociodigital com a doação em comodato de 504 equipamentos de sua linha de produtos de TI seminovos Remakker, promovendo a inclusão sociodigital de mais de 6.261 jovens.
Em 2021, a empresa criou o Instituto ReUrbi de Inclusão Sociodigital, seu braço no terceiro setor, que passou a administrar e manter os mais de 110 projetos de inclusão social com origem nas operações da ReUrbi.
Inovação e trabalho em rede
A Retalhar já nasceu com o propósito de gerar um impacto socioambiental positivo na sociedade. A partir da logística reversa, a empresa coleta uniformes de empresas em desuso para realizar a desmontagem das peças por meio de etapas de trituração e desfibramento. Depois, elas são reinseridas na economia e transformadas em outros materiais como, por exemplo, cobertores populares, cujas doações no período de inverno são fundamentais para pessoas em situação de rua.
Além do impacto ambiental gerado, devido ao reaproveitamento dos resíduos têxteis, a empresa também utiliza mão de obra inclusiva, buscando contratar pessoas pertencentes a grupos sociais sub-representados no ambiente empresarial, como mulheres costureiras moradoras de periferias.
Jonas Lessa, atual CEO da Retalhar, conta que a certificação como empresa B foi fundamental para a estruturação da empresa. “O conhecimento sobre o Sistema B foi, inclusive, fundamental para que os fundadores optassem por dar vida ao projeto sob a forma de uma empresa, e não uma ONG já que, apesar do propósito socioambiental, sempre tivemos clareza de que nossa iniciativa só teria impacto sistêmico se feita em conjunto com grandes players do mercado e em consonância com suas práticas e modus operandi”, diz.
Em 2021, a Retalhar foi reconhecida como Best For The World e Lessa conta que tanto a certificação como fazer parte do movimento do Sistema B é importante para que a equipe possa continuar a busca por melhorias na empresa e no mundo.
Olhar para o futuro
Outra empresa que apoia o Sistema B desde sua chegada ao Brasil é a Okena, que atua como uma solução offsite para o tratamento de efluentes industriais. A empresa faz um trabalho de coleta de efluentes de empresas de diversos setores, como o químico, petroquímico, de tintas de vernizes, metalúrgico, de fertilizantes, farmacêutico e o de cosméticos. Depois, realiza o tratamento dos efluentes em sua sede em Itapevi, na Grande São Paulo. O impacto ambiental é direto.
Para Ricardo Glass, fundador e CEO da Okena, o propósito da empresa é olhar para o futuro e a certificação como empresa B também representa essa missão. “A certificação é um compromisso com o que vamos fazer e não apenas com o que já estamos fazendo ou já fizemos. Para se certificar, a empresa precisa ter comprovado um mínimo de práticas nas mais diversas áreas. Mas estamos longe do gabarito. E nosso desejo é seguir implementando práticas para aumentar a nossa pontuação na Avaliação de Impacto B e nos tornarmos uma empresa melhor para o mundo a cada dia”, destaca.
O CEO conta ainda que a empresa recebeu, recentemente, o apoio da Rise Ventures, um fundo de investimentos também certificado como empresa B. Com a ajuda, a equipe Okena cresceu de 40 para 60 pessoas com projetos para aumentar ainda mais. Mas o objetivo principal da parceria é construir a primeira mineradora em efluentes industriais do mundo, um projeto já desenhado para os próximos cinco anos.
“Sempre buscamos priorizar o relacionamento comercial com empresas B. Simplesmente porque, contribuindo para o desenvolvimento dessas empresas, ajudamos a construir o mundo que queremos. Sem a Rise Ventures, seria impossível avançar na velocidade e produtividade que temos agora. Estamos muito animados com o que construímos para o futuro”, garante Glass.
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Este conteúdo foi produzido por meio de uma parceria entre o Observatório do Terceiro Setor e a ReUrbi – Recicladora Urbana.