Nomeado Herói, ele marcou a luta pela igualdade racial até sua morte
Abdias do Nascimento, um dos maiores defensores da cultura negra e símbolo do combate ao racismo no Brasil, foi incluído no Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria; o livro está guardado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
Por Redação
Poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos das populações negras, Abdias do Nascimento marcou sua vida e ações como um dos maiores defensores da cultura e igualdade para populações afrodescendentes no Brasil. Sua trajetória foi honrosa, ao ponto que neste janeiro de 2024, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria.
O Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria destaca pessoas ou grupos que tenham oferecido a vida em defesa e construção do País com dedicação e heroísmo. Está guardado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
Nascido em 14 de março de 1914 em Franca, interior de São Paulo, Abdias foi uma figura multifacetada que deixou uma marcante contribuição para a cultura afro-brasileira e a luta pelos direitos civis. Originário de uma família humilde com raízes na escravidão, enfrentou o racismo desde tenra idade, trabalhando para sustentar sua família. Ingressou no Exército na década de 1930, mas logo se envolveu no movimento da Frente Negra Brasileira, organização que realizava protestos em locais como hotéis, restaurantes e bares que impediam a entrada de negros, e desenvolvia diversas atividades de caráter político, cultural e educacional para os seus associados buscando igualdade e participação dos negros na sociedade.
Ao ser perseguido pela polícia em São Paulo, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, durante a ditadura do Estado Novo, foi preso por protestar contra a presença da marinha norte-americana. Após experiências no exterior durante o exílio, Abdias retornou ao Brasil e destacou-se como fundador do Teatro Experimental do Negro, pioneiro por reunir exclusivamente atores negros. Além disso, estabeleceu entidades como o Museu da Arte Negra e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, tornando-se uma figura central no ativismo negro nacional e internacional.
Abdias elegeu-se deputado federal pelo PDT em 1982. Ocupou ainda uma cadeira no Senado, como suplente do antropólogo Darcy Ribeiro, entre 1991 e 1992 e de 1997 a 1999.
Como deputado, apresentou projetos de lei para tipificar o racismo como crime de lesa-humanidade e transformar o 20 de novembro no Dia Nacional da Consciência Negra. Como senador, apresentou projetos que previam a criação de cotas raciais, a mudança dos currículos escolares, o endurecimento da legislação contra o racismo.
Abdias do Nascimento faleceu em 23 de maio de 2011, aos 97 anos, deixando um legado significativo na luta pela igualdade racial no Brasil.