Oscar: a vez das questões humanitárias
Entre vencedores estão ‘A Teoria de Tudo’ e ‘Para Sempre Alice’, ambos centrados em personagens que tiveram a vida transformada por uma doença grave. Cerimônia teve discursos sobre suicídio, igualdade de gênero e racismo
Por Josilene Rocha*
A cerimônia do Oscar, que ocorreu neste domingo (22), não abandonou as conversas sobre vestidos usados pelas atrizes e o ti-ti-ti dos bastidores. Mas o foco da festa foram as diversas produções que abordaram questões humanitárias e contemporâneas e os discursos de alguns premiados que chamaram atenção para estas questões. Diferentemente do que muitos imaginavam, nenhum filme despontou como grande favorito e levou mais do que quatro estatuetas para casa. Assim, o número de produções premiadas foi maior e houve espaço para diversas obras com questões contemporâneas, como ‘A Teoria de Tudo’ (The Theory of Everything), ‘Para Sempre Alice’ (Still Alice), ‘The Phone Call’ e ‘Crisis Hotline: Veterans Press 1’.
O longa ‘A Teoria de Tudo’, de James Marsh, é baseado no livro homônimo de Jane Hawking, e conta a história real do astrofísico inglês Stephen Hawking, que descobriu aos 21 anos ser portador de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença degenerativa que deveria matá-lo em dois anos. O filme destaca a forma como a doença afetou a vida do jovem, tirando dia após dia seus movimentos, e a superação dele ao formar uma família, continuar com sua produção científica e sobreviver por décadas. Quem interpreta o astrofísico é Eddie Redmayne, que recebeu o Oscar de melhor ator pelo papel.
‘Para Sempre Alice’, de Richard Glatzer e Wash Westmoreland, também gira em torno de uma pessoa que teve a vida transformada por uma doença, mas desta vez a história é fictícia e a enfermidade em questão é o Alzheimer. No longa-metragem, Julianne Moore dá vida à Dra. Alice Howland, uma renomada professora de linguística que aos poucos começa a esquecer palavras e a se perder pelas ruas. O papel rendeu a Juliane Moore a estatueta de melhor atriz.
Como melhor curta-metragem de ficção, ganhou o filme ‘The Phone Call’, de Mat Kirkby, sobre uma moça tímida que trabalha em um centro de ajuda telefônico, e que tem a vida mudada radicalmente após um telefonema.
Outra produção que saiu vencedora foi ‘Crisis Hotline: Veterans Press 1’, de Ellen Goosenberg Kent e Dana Perry, na categoria melhor documentário de curta-metragem. O filme fala sobre o serviço de ajuda telefônica para veteranos americanos que retornam para suas casas com traumas bélicos. Estima-se que, em apenas um mês, o serviço ‘The Veterans Crisis Line’ receba mais de 20 mil ligações de pessoas em situações de crise, muitas pensando até mesmo em suicídio.
Além das produções, discursos emocionados convidaram o público à reflexão. Ao receber a estatueta, a vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante, pelo filme ‘Boyhood’, Patricia Arquette, lembrou à glamourosa plateia presente no Teatro Dolby, em Los Angeles (EUA), que precisamos pensar nas questões ambientais, nos povos em desenvolvimento e, especialmente, na questão de igualdade de direitos entre homens e mulheres. O filme aborda aspectos da vida de um garoto, dos 10 aos 21 anos, com diversos conflitos familiares.
Graham Moore, que levou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por ‘O jogo da imitação’, também deixou sua marca. “Quando eu tinha 16 anos, tentei me matar. Eu me achava esquisito, um peixe fora d´água. E hoje digo para quem pensar em suicídio, o mundo tem lugar para todos nós. Continue estranho, esquisito, mas ocupe seu espaço no mundo.”
John Stephens, laureado pela canção ‘Glory’, trilha sonora de ‘Selma’, tocou na questão racial e nos direitos civis e lembrou da grande quantidade de negros e pobres encarcerados nos Estados Unidos. “Esta canção é pra vocês também!”
Curiosamente, nem o tapete vermelho escapou de uma chamada à conscientização. Atrizes como Reese Witherspoon, Cate Blanchet, Julianne Moore e Emma Stone têm se recusado a apenas exibir seu “visual” e alegam que, enquanto seus colegas homens recebem perguntas relacionadas a carreiras e papéis nos filmes, para elas sobram questões sobre vestidos, penteados e dietas. Por isso, abraçaram a campanha no twitter #AskHerMore (pergunte mais a ela).
Confira a lista completa de ganhadores do Oscar 2015:
Melhor Filme
Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância)
Melhor Diretor
Alejandro González Iñarritu (Birdman)
Melhor Ator
Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo)
Melhor Atriz
Julianne Moore (Para Sempre Alice)
Melhor Ator Coadjuvante
J.K. Simmons (Whiplash – Em Busca da Perfeição)
Melhor Atriz Coadjuvante
Patricia Arquette (Boyhood – Da Infância à Juventude)
Melhor Roteiro Original
Alejandro G. Iñarritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris, Jr. e Armando Bo (Birdman)
Melhor Roteiro Adaptado
Graham Moore (O Jogo da Imitação)
Melhor Filme Estrangeiro
Ida, de Pawe? Pawlikowski (Polônia)
Melhor Animação
Operação Big Hero
Melhor Documentário
Citizenfour
Melhor Canção Original
“Glory” (Selma)
Melhor Trilha Sonora Original
Alexandre Desplat (O Grande Hotel Budapeste)
Melhor Direção de Fotografia
Emmanuel Lubezki (Birdman)
Melhor Montagem
Whiplash – Em Busca da Perfeição
Melhor Figurino
O Grande Hotel Budapeste
Melhor Maquiagem e Penteado
O Grande Hotel Budapeste
Melhor Direção de Arte
O Grande Hotel Budapeste
Melhor Mixagem de Som
Whiplash – Em Busca da Perfeição
Melhor Edição de Som
Sniper Americano
Melhores Efeitos Visuais
Interestelar
Melhor Curta-Metragem
The Phone Call
Melhor Curta-Metragem de Documentário
Crisis Hotline: Veterans Press 1
Melhor Curta-Metragem de Animação
O Banquete
*Com colaboração de Ana Paula Rogers