Políticas de RH no Terceiro Setor estão evoluindo e atraem profissionais qualificados
Por Edmond Sakai
Recebo mensagens de profissionais que atuam no setor privado e, em busca de um propósito de vida, sonham em fazer a transição para o Terceiro Setor. No artigo, busco responder os principais questionamentos para quem quer “entrar de cabeça” nesse setor apaixonante, mas repleto de desafios. A boa notícia é que a política de gestão de pessoas das organizações sociais está evoluindo para atrair os melhores talentos.
Lembro-me de uma vez que abri uma vaga para gerente de marketing e recebi mais de 3 mil candidaturas, muitas de profissionais de altíssimo nível do Segundo Setor, isto é, das empresas privadas. Desnecessário dizer que fazer a seleção foi muito difícil. Esse é um exemplo de como o Terceiro Setor tem cada vez mais atraído gente qualificada e disposta a trabalhar por um propósito.
Sempre me fizeram essa pergunta e já escrevi sobre isto: “O que preciso saber para fazer a transição do mundo corporativo para o Terceiro Setor?”. A frequência só aumentou durante a pandemia. Com efeito, vimos que a vida que conhecemos pode de um dia para o outro se transformar totalmente. Assim é natural questionarmos e buscarmos novos sentidos para nossa existência. Pois bem: afinal, como fazer essa transição?
Primeiro passo: atue como voluntário
Eu iniciei meu envolvimento no Terceiro Setor como voluntário, há mais de duas décadas, e até hoje atuo como voluntário em alguns projetos. O voluntariado abriu as portas para o que hoje é uma carreira consolidada. Minha experiência não é muito diferente da maioria das pessoas que trabalham no setor. Por isso, se você hoje trabalha em uma empresa privada, mas sonha em atuar com propósito, comece se candidatando a um trabalho voluntário.
Esse é um grande diferencial que os hiring managers buscam na hora de selecionar os currículos, principalmente se você não tem experiência profissional no Terceiro Setor. Além disso, no voluntariado você já pode conhecer melhor a entidade na qual gostaria de trabalhar efetivamente, faz networking, é visto, entre outros. Por isso, deve dedicar-se à função com comprometimento, mesmo se não for esse o trabalho que “pague as suas contas”.
Capacite-se em captação de recursos
O Terceiro Setor precisa de profissionais das mais diversas áreas: Direito, Pedagogia, Administração, Ciências Sociais, Economia, Medicina, Comunicação & Marketing, mas a arrecadação de fundos é a espinha dorsal de toda organização social, e por isso é a função com maior demanda. Continuo, portanto, a repetir que qualquer pessoa que trabalhe no setor deveria ter noções básicas de captação.
Hoje, há ótimos cursos de Gestão do Terceiro Setor que abordam bem essa disciplina. Se eu fosse escolher uma área para quem quer atuar no setor se capacitar, seria este. Não é exagero afirmar que as milhares de ONGs ativas no Brasil precisam de um profissional de captação de recursos.
Alinhamento de Missão, Visão e Valores
Nunca canso de frisar que toda organização social deve se pautar por uma Missão, Visão e Valores claros e com seu programa e advocacy alinhados a eles. Por isso, se você tem interesse em trabalhar em uma organização específica, confira o site, procure pela Missão, Visão e Valores e veja se eles se adequam ao seu propósito. Quando eles estão alinhados, você irá trabalhar mais motivado, feliz e conseguirá resultados extraordinários.
Você não vai ficar milionário, mas salários e benefícios estão melhorando
O termo “organização sem fins lucrativos” não é preciso. Afinal, qualquer organização precisa ser superavitária para ter uma sustentabilidade financeira. Logo, uma ONG pode e deve gerar “lucro”, no sentido de um superávit financeiro. Mas, a organização social não irá repartir esse lucro com os stakeholders, e sim investi-lo nos programas e projetos para obter maior impacto na sociedade e efetividade em suas atividades.
Assim, como já abordei aqui no Observatório do Terceiro Setor, as OSCs também podem e devem se valer das técnicas e estratégias de gestão das grandes empresas privadas, inclusive na gestão de pessoas. Hoje, as grandes organizações nacionais e internacionais oferecem planos de carreira e salários competitivos em suas posições sêniores. Na média, as remunerações estão competitivas embora ainda sejam inferiores ao do setor privado. No entanto a boa gestão de pessoas vai além do salário. Benefícios e atrativos, como um ambiente de trabalho inclusivo e acolhedor, flexibilidade da jornada de trabalho, boas práticas de análise de resultados e feedback e combate ao assédio moral e abusos têm se consolidado.
Em resumo, minha sugestão é: se seu coração está apontando para uma transição do Segundo para o Terceiro setor, não tenha medo: vá em frente! Continue a buscar qualificação e cultive o networking para se destacar, pois a concorrência pelos melhores cargos nas ONGs nacionais e internacionais é cada vez maior.
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A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
Edmond Sakai é advogado, consultor e professor universitário. É mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo e mestre em Administração de ONGs pela Washington University in St. Louis, EUA. Foi professor de Direito Internacional na UNESP, professor de Gestão do Terceiro Setor na FGV-SP e Representante da Junior Chamber International na ONU. Recebeu Voto de Júbilo da Câmara Municipal de São Paulo.