Projeto social Compartilha viabiliza moradia para famílias de baixa renda
Projeto garante uma boa moradia para famílias de baixa renda no centro de São Paulo. Primeira casa da iniciativa foi entregue a família de bolivianos que antes vivia em um quarto de 9 m²
Por: Juliana Lima
Yaneth Blanca, de 32 anos, é boliviana e trabalha como costureira na Cooperativa Empreendedoras Sin Fronteras, que reúne 23 famílias bolivianas e paraguaias que trabalham com costura no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Ela e o marido, Ovídio Callaú, que também tem 32 anos e trabalha na cooperativa, moravam em um quarto de pensionato de nove metros quadrados com os filhos Diana, de 9 anos, e Juan, de 4, além dos pais de Yaneth e seu irmão.
Agora, toda a família mora em uma casa de 88 metros quadrados, com três quartos e dois banheiros, localizada no mesmo bairro. O maior dos quartos tem 15 metros quadrados e pertence ao casal e seus filhos, enquanto os outros dois foram entregues aos pais de Yaneth e seu irmão.
A mudança só foi realizada graças ao Compartilha, um projeto social do FICA, fundo imobiliário de propriedade comunitária, que visa à aquisição de imóveis para dar moradia a famílias de baixa renda na região central de São Paulo.
O projeto funciona com investidores sociais, que compram imóveis onde funcionam cortiços e pensionatos, e os transformam em casas compartilhadas que são oferecidas às famílias de baixa renda com contratos regulares e aluguéis abaixo do preço do mercado.
Para Yaneth e a família, trata-se do primeiro contrato regular de aluguel em toda a sua vida. Ela conta que, antes, as sete pessoas dividiam um único banheiro e seu pai, já idoso, desenvolveu um problema de saúde devido à umidade do local.
“Agora estamos em uma casa arejada, com janelas que entram muita luz. Temos uma sala espaçosa para caber as máquinas de costura, e o corredor e quartos grandes para as crianças correrem e brincarem”, diz a boliviana.
De acordo com Roberto Fontes, coordenador do Compartilha, esta é a primeira entrega de um cronograma que pode viabilizar lares seguros para outras 50 famílias até 2025, em uma primeira fase do projeto.
“O metro quadrado de um cortiço no centro pode ser mais caro que de um apartamento de classe média alta em São Paulo. O valor contrasta com o péssimo estado da maioria dos edifícios, sem retorno na qualidade da construção, segurança de posse ou qualidade de vida, nos quais os inquilinos são frequentemente ameaçados de despejos“, diz Roberto.
No Compartilha, os contratos de locação impedem que ocorram reajustes ou despejos arbitrários. Além disso, segundo um levantamento do FICA, os aluguéis ficam 30% mais baratos do que a média cobrada no bairro. O projeto é o primeiro no Brasil a introduzir a figura do proprietário social não especulativo, quando o dono do imóvel não prioriza o lucro e destina sua operação para demandas sociais.