Denúncia de mortes por proxalutamida no AM é uma das mais graves da história
A Unesco considera a denúncia de 200 mortes de voluntários de uma pesquisa clínica com a proxalutamida, feita no Amazonas, uma violação aos direitos humanos
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), agência especializada das Nações Unidas (ONU), considera a denúncia de 200 mortes de voluntários de uma pesquisa clínica com a proxalutamida, feita no Amazonas, uma violação aos direitos humanos e uma das infrações éticas mais graves da história da América Latina.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já defendeu o uso da substância no combate à infecção pelo coronavírus, mas o medicamento não teve eficácia comprovada contra à Covid-19. O uso da substância em pesquisas científicas também foi vetado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no início do mês passado.
A declaração foi divulgada no sábado (09/10) por meio da Rede Latino-americana e Caribenha de Bioética (Redbioética-Unesco) e se refere à denúncia feita pela Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) à Procuradoria-Geral da República em setembro. A entidade é responsável por regular a participação de seres humanos em pesquisas científicas no Brasil.
O estudo clínico no Amazonas foi realizado, segundo a Conep, sob a liderança do endocrinologista Flávio Cadegiani e patrocinado pela rede de hospitais privada Samel.
A proxalutamida consiste em um bloqueador de hormônios masculinos ainda em desenvolvimento pela farmacêutica chinesa Kintour. Antes de ser testada para Covid-19, a substância era estudada para tumores de mama e próstata.
Para a rede de bioética da Unesco, é igualmente condenável a denúncia de que os pesquisadores, apesar de terem conhecimento dos sucessivos óbitos e dos eventos adversos graves, continuassem com o recrutamento e a execução dos estudos.
Também é considerado gravíssimo, segundo a Unesco, a suspeita de que o comitê científico da pesquisa tenha sido coordenado por pessoas vinculadas aos patrocinadores do estudo, o que configuraria um claro conflito de interesses.
A organização pede ainda que a comunidade científica nacional e internacional atuem em conjunto para monitorar, divulgar e acompanhar a denúncia da Conep. “É urgente identificar as causas das mortes ocorridas durante os estudos. É inaceitável que esses tipos de eventos, se verificados, estejam acontecendo no ano de 2021″, diz documento da Unesco.
Fonte: Folha de São Paulo