Veterinário ‘nômade’ já ajudou gratuitamente mais de 80 mil animais
O médico veterinário Rodrigo Mendes já ajudou e castrou mais de 80 mil animais e ficou conhecido como “Vet Nômade”
O médico veterinário Rodrigo Mendes se envolveu com diferentes ONGs ao longo de seus 37 anos de idade. “É uma ocupação que sempre me deu muita satisfação e que comecei ainda criança, com 12 anos”, lembra.
Há sete anos, um telefonema que recebeu de Roswitha, uma protetora com quem havia trabalhado, foi o que bastou para o início de um projeto que moldaria sua vida nos anos seguintes.
“Ela se mudou de São Paulo para Belmonte, um município muito pequeno na Bahia, e adotou duas gatas no caminho. Como a cidade não tinha estrutura para a castração, as gatas foram fecundadas por outros animais da cidade, e com o passar do tempo, entre eles, já eram 80 crias.”
O fenômeno observado por Roswitha é bastante comum. As fêmeas de gatos podem ter o primeiro cio a partir dos seis meses de idade, e a partir daí, uma única gata têm a possibilidade de gestar 36 filhotes no período de um ano. Se estes não forem castrados, a reprodução desenfreada é um destino certo.
Para cães, o contingente é menor, mas ainda preocupante. Levando em conta a possibilidade das fêmeas engravidarem duas vezes por ano e a mesma média de quatro filhotes por gestação, oito novos cães podem surgir por ano a partir de uma cadela.
“Essa amiga já tinha 70 anos e não tinha condição de levar todos os bichos à cidade de Porto Seguro, que fica a duas horas de distância. Ela sugeriu que eu fosse à Belmonte fazer um mutirão de castração e eu achei uma boa ideia. Pedi que comentasse com os vizinhos para saber se mais gente precisava do serviço”, lembra Rodrigo.
A expedição foi a primeira versão do castramóvel, um ônibus adaptado e equipado com materiais e aparelhos cirúrgicos que tem como objetivo visitar áreas remotas onde não há clínicas veterinárias ou onde a população não pode arcar com a média de preço cobrada nas clínicas.
“O projeto surge da necessidade de comunidades lotadas de animais e sem serviços especializados. Eu não tinha contato com essa realidade ainda, porque em São Paulo nós temos, às vezes, duas clínicas em uma mesma rua, prefeituras fazendo atendimentos, ONGs de diferentes tamanhos. Então, para mim, uma cidade que não tem veterinário ainda era uma coisa que eu nunca havia tido contato. A princípio, peguei para mim a missão de fazer esse trabalho social uma ou duas vezes por ano, mas acabou que nunca consegui parar.”
O ‘Castramóvel’ visita principalmente cidades no interior da Bahia, mas já passou por municípios em outros estados, como Pernambuco, Distrito Federal e Espírito Santo.
O Vet Nômade, como Rodrigo é conhecido, faz parcerias prévias com ONGs ou protetores independentes nas cidades onde vai visitar. O veterinário então realiza um cálculo de quantos animais em média serão atendidos, os custos de materiais e do serviço da sua equipe de oito pessoas e os gastos com o ônibus – tanto para possíveis manutenções quanto o combustível necessário para chegar até o local.
Rodrigo explica que a margem de lucro costuma ser pequena e que, quando possível, a equipe também realiza outros procedimentos de urgência. “Parece que tudo acontece quando nós chegamos: um animal precisando da retirada de um tumor com urgência, outro que foi atropelado… Nem sempre é possível fazer todos os procedimentos, mas ajudamos como podemos.”
Rodrigo já recebeu críticas e inclusive notificação por parte de alguns Conselhos Estaduais de Veterinária, que alegam, de acordo com ele, a ilegalidade da castração itinerante. Os números do castramóvel também parecem chamar atenção – às vezes, a equipe castra mais de 50 animais em um único dia e em sete anos, mais de 80 mil gatos e cachorros já passaram pela cirurgia.
O veterinário rebate as críticas. “Há, sim, leis estaduais e municipais que permitem programas itinerantes como o nosso. Além disso, os Conselhos servem para fiscalizar a profissão, e não para criar leis. Da parte da fiscalização, já recebi visitas de representantes no castramóvel que constatam que tudo está 100%. Nós garantimos que temos todos os materiais e equipamentos necessários para para cirurgias seguras e óbitos não são nada comuns entre os animais que atendemos.”
“Tentamos sempre diluir esses custos atendendo várias cidades próximas umas das outras. Passamos dias na estrada. Às vezes o trajeto demora até mais tempo do que o período que passamos na cidade. O apoio que eu e meus companheiros de trabalho recebemos das nossas famílias é essencial para que consigamos continuar fazendo esse trabalho”, conclui o veterinário.
Fonte: BBC Brasil