45% das vítimas de violência sexual atendidas em hospital de SP são crianças
No Hospital Pérola Byington, 45% dos atendimentos de violência sexual referem-se a vítimas infantis, com até 11 anos
No Hospital Pérola Byington, em São Paulo, 45% dos atendimentos de violência sexual referem-se a vítimas crianças, com até 11 anos. Entre janeiro e junho deste ano, a unidade realizou 1.600 atendimentos, sendo 728 deles em crianças até essa idade.
No mesmo período do ano passado, foram 1.954 atendimentos, 855 deles em vítimas infantis. “Em todos os serviços, a maioria das vítimas são adolescentes violentadas, as crianças são minoria, mas, quando vêm, já chegam com uma idade gestacional mais avançada. Primeiro porque não existe um entendimento do próprio corpo, do que é gravidez”, diz a médica Helena Paro, chefe do serviço de violência sexual no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais.
No Brasil, o isolamento social imposto pela quarentena provocou um aumento de 40% nos casos de violência contra a mulher, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A cifra engloba também um maior número de casos de violência sexual, o que reflete nos registros dos serviços de saúde que atendem vítimas desse crime e realizam a interrupção da gravidez prevista em lei, em casos de estupro, risco de morte materna ou feto anencéfalo.
O Hospital Pérola Byington, em São Paulo, referência no país nesse tipo de atendimento, realizou 275 procedimentos de aborto legal no primeiro semestre deste ano. Em 2019, no mesmo período, foram realizados 190, de um total de 377 em todo o ano passado, segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Além do aumento dos procedimentos de aborto legal, também houve mais vítimas de estupro procurando o centro médico com gestação em idade avançada. “A violência contra a mulher aumentou e a gravidade dos casos está maior, estamos recebendo mais casos de gestação mais avançada, porque as meninas e mulheres acham que, por conta da quarentena, os serviços não estão funcionando”, diz a médica Helena Paro.
“Com 40% de aumento da violência doméstica, especialmente as crianças estão ainda mais expostas à violência sexual. E sem escola, que é um lugar de proteção. O próprio caso da menina do Espírito Santo mostra que a gravidez durou exatamente esse período que a gente está em quarentena”, diz Daniela Pedroso, psicóloga que tem 23 anos de experiência em atendimento às vítimas de violência sexual e aborto legal e membro do Grupo de Estudos sobre Aborto (GEA), referindo-se ao caso da criança de dez anos que foi submetida a uma aborto após ser estuprada pelo tio de 33 anos, na cidade de São Mateus.
“Pela falta de conhecimento do próprio corpo, pela dificuldade de perceber o risco de uma gravidez, além das ameaças sofridas, faz com que essas crianças tenham uma percepção tardia da gravidez”, lamenta a psicóloga.
A cada hora, quatro meninas brasileiras de até 13 anos são estupradas, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A maior parte das vítimas tem até 5 anos de idade. 90% desses casos de violência acontecem em casa, e 72% das testemunhas não denunciam.
Os serviços de apoio às vítimas de violência sexual, mesmo na pandemia, estão funcionando. Denúncias também podem ser feitas pelo Disque 100, serviço gratuito e que mantém em sigilo o nome da pessoa que faz a denúncia.
Fonte: El País