Desafios da primeira infância no pós-pandemia
Crianças na primeira infância passaram quase um terço de suas vidas no isolamento; impactos na educação e no desenvolvimento foram significativos
Por Julia Bonin
O Marco Legal da Primeira Infância indica que esse período compreende desde a gestação até os seis anos de idade. Essa fase é quando o indivíduo percebe, reconhece e interpreta o mundo, ou seja, é quando existem as maiores possibilidades para o desenvolvimento de competências humanas.
Os impactos gerados pela pandemia de Covid-19 sobre o desenvolvimento infantil são de grande importância para o desenvolvimento do indivíduo, uma vez que o cérebro se desenvolve de maneira intensa nos primeiros anos de vida, criando bases para o aprendizado e habilidades socioemocionais.
Tendo em vista que esse período de anormalidade existe há dois anos e meio, as crianças que hoje estão na primeira infância passaram quase um terço de suas vidas confinadas. Um período em que os estímulos deveriam ser diversos, expondo as crianças a situações de convívio social e emocional, foi limitado às vivências dentro de casa e permeado pelo clima de medo gerado pela crise sanitária.
De acordo com Ana Luiza Guimaro, jornalista e voluntária de comunicação há anos no Instituto Zero a Seis, alertou para a intensa mudança de realidade enfrentada durante a pandemia e seu impacto nas crianças. Para ela, as questões socioemocional e educacional são as mais urgentes no pós-pandemia.
A estabilidade é um importante pilar para o desenvolvimento. Devido às perdas do período, muitas crianças ficaram órfãs ou precisaram viver com pessoas que tinham um vínculo menor, por exemplo, parentes distantes. Um levantamento da Arpen-Brasil mostrou que mais 12 mil crianças de até seis anos de idade no Brasil ficaram órfãs de um dos pais vítimas da covid-19. “As crianças, muitas vezes, ficaram carentes de explicações”, afirma Guimaro.
“Houve um confinamento das crianças em casa, quase que um aprisionamento. Para elas, isso acabou significando um encostar do conhecimento, uma impossibilidade de desenvolvimento social e angústias que não foram tratadas adequadamente pelos pais e pela família, porque a família mesmo estava naquela situação inédita”, diz Ana Luiza sobre o desenvolvimento na primeira infância durante a pandemia.
A educação na primeira infância não se limita às atividades em sala de aula, mas também inclui a convivência com outras crianças, estabelecimento de limites e enfrentamento de questões socioemocionais. Sendo assim, os profissionais da educação e as famílias enfrentam um desafio no período pós-pandemia para inserir e integrar alunos que vieram de realidades completamente diferentes.
Ana Luiza integra o projeto Pro Bebe, programa do Zero A Seis direcionado a pais e responsáveis, que conta com um aplicativo de celular que envia informações objetivas e personalizadas sobre cuidados com o bebê, desde a gestação até os 18 meses de vida. O projeto busca levar informações importantes para o desenvolvimento da criança e orientar os cuidadores para que o bebê tenha um desenvolvimento saudável na primeira infância. Assim, as crianças crescem com habilidades intelectuais, sociais, afetivas e de saúde, contribuindo para a diminuição da desigualdade da sociedade.
O Instituto Zero a Seis é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que, desde 2006, destina sua atenção às crianças e gestantes para tratar sobre a primeira infância. Pioneira no assunto em território nacional, a instituição interage com lideranças públicas e privadas, pais, familiares e cuidadores em favor do olhar cuidadoso e prioritário em relação às crianças brasileiras.