Em 3 meses, conflito na Etiópia impacta mais de 2,3 milhões de pessoas
Estimativa divulgada pela ONU se refere ao cenário na região de Tigray, no norte da Etiópia, onde tropas da região estão em conflito com forças nacionais. Mais de 56 mil pessoas buscaram refúgio no Sudão
Por: Mariana Lima
De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitárias (OCHA-ONU), desde o início do conflito na região de Tigray, no norte da Etiópia, há três meses, a resposta humanitária continua severamente limitada e inadequada.
Com base em estimativas, cerca de 2,3 milhões de pessoas estariam enfrentando necessidades básicas e crescentes. O número não inclui pessoas que já precisavam de assistência antes do conflito entre o Exército do país e forças da região de Tigray.
O conflito começou em novembro de 2020, após o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2019, acusar os governantes da região de Tigray de terem atacado duas bases militares. Logo após o pronunciamento, Ahmed iniciou uma ofensiva contra a localidade.
A região é governada pela Frente de Libertação do Povo Tigray (FLPT), partido nacionalista que há meses vinha se rebelando contra o Executivo central da Etiópia, o segundo país mais populoso da África.
As tensões entre o governo federal e a região do Tigray já estavam acirradas, mas as hostilidades ocorridas ao longo do mês de novembro alimentaram a possibilidade de uma guerra civil.
Desde então vêm ocorrendo confrontos armados entre os dois lados, com ataques aéreos realizados pelo Exército federal. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados, a ACNUR, mais de 56 mil etíopes imigraram para o país vizinho, o Sudão, para fugir da violência na região de Tigray.
Somente nos primeiros dias de 2021, cerca de 800 pessoas cruzaram a fronteira para escapar dos combates entre as tropas regionais de Tigray e as forças nacionais da Etiópia.
Os refugiados revelam que suas casas estão sendo saqueadas, meninos são recrutados para lutar forçadamente e muitas mulheres e meninas acabam sendo vítimas da violência sexual.
No trajeto para o Sudão, muitos passam os longos dias de viagem cansados, tendo apenas a roupa do corpo. De acordo com estimativas, 30% dos refugiados seriam menores de 18 anos e 5% teriam mais de 60 anos.
A região vem enfrentando uma situação humanitária descrita, pelas ONGs e pela ONU, como terrível, sendo oferecido um acesso precário a serviços e meios de subsistência para a população.
Nas cidades do país, os hospitais vêm funcionando de forma parcial, sem estoque de suprimentos e ausência de profissionais de saúde. Os centros fora das grandes cidades não funcionam.
A estimativa é que mais de 222 mil pessoas tenham se deslocado internamente devido ao conflito. Antes disso, 100 mil já teriam sido obrigadas a abandonar suas casas.
Atualmente, agências da ONU e ONGs esbarram em áreas bloqueadas que dificultam a chegada de assistência humanitária em regiões não controladas pelo governo. O grande desafio, de acordo com a OCHA, é a falta de autorização das autoridades.
Além do conflito, a região enfrenta casos de desnutrição causada pela pandemia de Covid-19 e ampliada por uma praga de gafanhotos do deserto. A OCHA ressalta que as colheitas ficaram nos campos e as principais rotas de abastecimento para a região de Tigray estão cortadas.
O que diz o governo da Etiópia
Em resposta a uma matéria do Observatório, publicada em novembro de 2020, com base em uma reportagem do jornal El País Brasil, a Embaixada da Etiópia no Brasil enviou um documento em que esclarece o atual cenário vivenciado no país.
No texto, o governo da Etiópia afirma que as ações tomadas tinham como objetivo garantir a lei e a ordem na região. A operação teria sido bem-sucedida e cumprida em um curto período.
“Desde que a conclusão das principais operações de aplicação da lei no estado regional de Tigray foi anunciada pelo governo etíope, em 28 de novembro de 2020, a principal prioridade de devolver a normalidade ao povo da região de Tigray tem sido um tópico primordial na agenda do governo. Assim, medidas constantes estão sendo tomadas para restaurar a lei e a ordem na região, implementando a principal prioridade do governo de levar os fugitivos à justiça, prestar assistência humanitária aos afetados pelas operações e reconstruir as infraestruturas danificadas”, diz o texto.
O documento ainda informa que o governo vem oferecendo um apoio humanitário aos deslocados internos da região de Tigray na tentativa de facilitar o retorno às suas comunidades de origem.
“[…] o apoio a comunidades vulneráveis também foi identificado e a distribuição de itens básicos de socorro para mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência está recebendo prioridade especial. As agências de ajuda internacional podem visitar a região de Tigray pessoalmente e avaliar a situação no local, colaborando assim com a administração regional provisória e o Governo Federal para uma entrega rápida de suprimentos para aumentar a cobertura de assistência aos beneficiários identificados”, continua o texto.
Para ler o posicionamento completo do governo da Etiópia sobre a atual situação do país, clique aqui.
Com informações de: BBC News Brasil | ONU News | El País Brasil
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