Vencedor do Nobel da Paz declara guerra contra oposição na Etiópia
O primeiro-ministro Abiy Ahmed encantou o mundo por seu aspecto democrático, mas conduziu a Etiópia para um conflito de consequência imprevisível
Por: Mariana Lima
Em dezembro de 2019, o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed recebia o prêmio Nobel da Paz, em Olso, apresentando um discurso em que recordava seus tempos de jovem soldado no conflito contra a Eritreia.
Na época, ele disse que “a guerra é o epítome do inferno para todos os que participam dela […] Vi mulheres e crianças tremendo de pavor sob a chuva mortal de balas e projéteis de artilharia“.
Onze meses se passaram, e esse mesmo homem declarou uma guerra de consequências imprevisíveis em seu próprio país, desafiando uma comunidade internacional que lhe cobra um maior esforço para o diálogo.
Em 4 de novembro, Ahmed apareceu na televisão nacional acusando governantes da região de Tigraya, que há meses se rebelavam contra o Executivo central, de terem atacado duas bases militares, deixando mortos, feridos e consideráveis danos materiais.
Ahmed ordenou ao Exército que invadisse a montanhosa região do norte do país usando a força e capturasse os líderes da Frente de Libertação do Povo Tigray (FLPT).
O Prêmio Nobel insiste na ideia de uma guerra rápida e alega que seus inimigos já estariam “agonizando”.
No dia 13 de novembro, dois mísseis lançados pela FLPT caíram em dois aeroportos da região de Amhara, e o dirigente tigray Dedretsion Gebremichael relatou que suas forças estavam enfrentando soldados eritreus em diversos locais.
Na mesma data, A ONU divulgou um alerta para possíveis crimes que poderiam estar ocorrendo no país devido ao grande número de civis que morreram na região de Tigré, onde o governo do país vem realizando uma operação militar.
O massacre de civis com facas e facções foi denunciado pela Anistia Internacional. Desde então, refugiados estão fugindo do conflito no norte do país alegando que ambos os lados vem comentando atrocidades contra civis.
Muitos estão cruzando a fronteira em direção ao país vizinho Sudão, que informou que irá acolher os etíopes que chagarem ao país. O Sudão tem um campo refugiados que na década de 1980 era usado para acolher vítimas da fomr.
No dia 14 de novembro, o grupo havia bombardeado o aeroporto de Asmara, a capital da Eritreia, no que aparenta ser uma perigosa escalada de ataques regionais.
Agora, o mundo se pergunta que tipo de dirigente Ahmed é. De pai muçulmano da etnia oromo e mãe cristã amhara, duas das etnias mais importantes do país, Ahmed teve uma origem humilde.
Ainda muito jovem aderiu à luta contra o ditador Mengistu e, depois de sua queda, em 1991, entrou para o Exército, onde esteve vinculado a tarefas de comunicação e inteligência. Ao mesmo tempo mostrou uma grande habilidade para ir alcançando posições elevadas no Partido Democrático Oromo, um dos grupos que integravam a coalização que governou a etiópia nas últimas duas décadas.
Ao ascender ao poder em 2018, encantou o mundo com um Governo partidário, uma mulher na Presidência da República, libertação de presos políticos, paz com a Eritreia após 20 anos de conflito e profundas reformas no sistema federal de base étnica que estava em vigor na Etiópia desde 1991.
Contudo, Ahmed também já sofreu uma tentativa de assassinato. Desde então, passou a ser acusado de traição por líderes oromo, sua etnia paterna.
Já os dirigentes tigray, privados da liderança que ostentavam na coalização governante, declaram-se em franca rebeldia.
A visão do exterior em relação a sua atuação é de que se trata de um reformista sincero, que vinha tentando conduzir o país para um sistema justo e moderno, com base na cidadania e não na filiação étnica.
Contudo, pensadores e a população do interior do país tem outra percepção: Ahmed conseguiu o acordo com Eritreia por compartilharem um mesmo inimigo comum, a FLPT.
A guerra aberta contra os dirigentes de Tigray é apenas mais uma ação em dois anos de mandato que desencadeou uma violenta repressão contra membros da comunidade oromo, levando seus principais líderes à prisão sob a acusação de terrorismo.
Uma ruptura étnica foi se forjando a gole de enfrentamentos entre membros de diferentes comunidades.
Fonte: El País Brasil – Internacional | G1 – Mundo
Em 3 meses, conflito na Etiópia impacta mais de 2,3 milhões de pessoas
12/02/2021 @ 11:27
[…] resposta a uma matéria do Observatório, publicada em novembro de 2020, com base em uma reportagem do jornal El País Brasil, a Embaixada da […]