Sem aula, crianças que têm alimentação só na escola podem passar fome
Escolas do Rio de Janeiro estavam abrindo na hora do almoço para servir refeição para as crianças, mas Justiça proibiu
O governo de São Paulo e a Prefeitura da capital paulista anunciaram na última sexta-feira (13/03) que vão suspender gradualmente as aulas nas escolas estaduais e municipais até o fim desta semana, para combater a disseminação do novo coronavírus, causador da Covid-19.
A partir do dia 23 de março, a suspensão das aulas será total. A medida irá afetar 3,5 milhões de alunos na rede estadual e 1 milhão de estudantes na rede municipal.
E São Paulo não foi o único estado a adotar a medida. Segundo a Folha, todos os estados e o Distrito Federal já anunciaram a suspensão das aulas das escolas estaduais e das escolas municipais localizadas nas capitais.
Mas o problema é que muitas crianças só têm alimentação na escola, passando fome nas férias. E é o que provavelmente ocorrerá também durante a suspensão das aulas, por conta do coronavírus. Mesmo sabendo da importância da medida, para os pais de crianças que vivem na miséria o cancelamento das aulas gera desespero.
Em 2017, um menino, na época com oito anos, desmaiou de fome durante as aulas e virou notícia nacional. Ele estudava em um colégio a 30 km de distância de sua casa, onde recebia como refeição apenas bolacha e suco.
A fome parece atingir todos os cantos do Brasil. Até mesmo sua cidade mais rica: São Paulo. Um professor da rede pública paulistana contou à BBC, no ano passado, o caso de uma aluna do período noturno que, sem comida em casa, levava o filho menor para também se servir da merenda.
A Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2019, divulgada pelo IBGE, mostrou que o país tem 13,5 milhões pessoas com renda mensal per capita inferior a R$ 145, ou U$S 1,90 por dia, critério adotado para identificar a condição de extrema pobreza. Isso significa que 6,5% dos brasileiros viviam nessa situação em 2018, o maior percentual em 7 anos.
Outro dado que chama atenção na SIS 2019 é que um em cada quatro brasileiros vive com menos de R$ 420 por mês. São 52,5 milhões de brasileiros vivendo na pobreza.
As escolas municipais do Rio de Janeiro, sabendo do grave problema da fome, estavam abrindo no horário do almoço para servir comida para as crianças.
Mas a Justiça decidiu que a Prefeitura do Rio não pode abrir suas escolas apenas para servir almoço durante a epidemia do novo coronavírus, como havia determinado o prefeito Marcelo Crivella ao suspender as aulas na cidade.
A decisão é da juíza Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite, titular da 14ª. Vara de Fazenda Pública, e atendeu a um pedido do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio (Sepe/RJ), que reclamou do perigo de servidores como merendeiras, porteiros, coordenadores, diretores e outras categorias continuarem frequentando as escolas.