Grandes mamíferos perderam em média um terço de seu habitat original
Pesquisa revela que grandes mamíferos perderam em média um terço de seu habitat natural desde as primeiras migrações humanas pela Terra. Só a onça-pintada, por exemplo, já perdeu 40% de sua área original
Por Juliana Lima
Os grandes mamíferos da Terra já perderam em média um terço de seu habitat original. Só a onça pintada, por exemplo, já teve sua área reduzida em 40%. Considerada o maior felino das Américas, a onça-pintada era originalmente observada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Hoje está oficialmente extinta em território norte-americano e é muito rara no México.
A informação é de um levantamento inédito que mapeou a distribuição original de 145 espécies de grandes mamíferos. A bióloga Lilian Sales, pesquisadora da Unicamp e principal autora do estudo, explica que a perda de grandes mamíferos pode ser observada desde o fim do período do Pleistoceno, entre 50 mil e 11 mil anos atrás.
“O Pleistoceno tardio é um marco temporal, a época em que começaram a acontecer as grandes migrações do ser humano a partir da África. Há uma sincronia entre a chegada do homem e o desaparecimento de algumas espécies”, diz ela.
O estudo mostra como diversas espécies tiveram suas áreas reduzidas pelas atividades humanas e, consequentemente, pela alteração no tipo de habitat e clima onde elas viviam. Ao serem localmente extintas em boa parte de seus habitats originais ou ao tê-los reduzidos, muitas espécies ficaram restritas a áreas em que o clima não seria o mais adequado para a sua existência.
É o que aconteceu, por exemplo, com a hiena-malhada, atualmente associada às savanas africanas, mas que já habitou estepes e pradarias por toda a Europa e a Ásia, em uma extensão muito maior do que o continente africano.
Lilian explica que animais de grande porte necessitam de grandes áreas para viver e possuem baixa taxa reprodutiva, o que os torna mais suscetíveis a essas mudanças de uma região para outra. Por essa razão, os pesquisadores já se referem a alguns deles como “refugiados climáticos”.
“Muitas espécies que conhecemos hoje na verdade se encontram em climas subótimos, não nos climas em que os seus antepassados viviam. Isso se deve porque as populações dessas espécies em climas ótimos foram extintas pelo homem”, reforça outro coautor do artigo, Mauro Galetti, professor titular da Universidade Estadual Paulista e professor assistente da Universidade de Miami.
Segundo os pesquisadores, essas informações históricas são relevantes para se fazer projeções sobre o futuro e planejar melhores ações de conservação atuais. Para eles, se não considerarmos onde esses animais já viveram originalmente, podemos nos enganar sobre os ambientes mais propícios a eles e que podem ter melhores chances para impedir suas extinções.
Fonte: Conexão Planeta